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Mostrando postagens de março, 2022

O astro do videokê 🔵

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  É horrível quando alguém ousa agredir a audição alheia arriscando a garganta num videokê. Enquanto o equipamento fica escondido num cantinho do boteco, guardando pastas com canções para todos os gostos e dois irritantes microfones, tudo bem. O paradoxal é que eu cantei muito nessa maldita invenção, confirmando a máxima: quem se diverte é quem canta, não quem ouve. Sertaneja, romântica, pop, rock, mpb etc, todo tipo de música, inclusive as que eu não gosto de ouvir, são cantadas, ou, às vezes, berradas. * Parecia mais uma festinha de fundo de quintal, literalmente. Mas dessa vez não era só isso.  Apesar de ser familiar, a comemoração seria impulsionada pelo álcool e pela novidade tecnológica. A princípio, o tal do videokê foi explorado com parcimônia, mas quando atraiu os primeiros curiosos o equipamento logo se tornou o centro das atenções. À medida que o álcool ía subindo, mais candidatos expunham os secretos dons artísticos. Nessa toada, desfilaram músicas nacionais e internacionai

Todo mundo odeia o Chris

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  Eu, como péssimo ator coadjuvante, me recuso a participar dessa farsa. A cerimônia do Oscar está perdendo sua relevância ano a ano. Seja por proselitismo partidário, excesso de politicagem identitária, autoculpa social ou afirmação de virtude, a qualidade cinematográfica fica em segundo plano. Qual é o melhor filme? Quem é o melhor ator? Mesmo sem assistir à cerimônia da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, na segunda-feira era quase uma obrigação conferir quem faturou os principais prêmios. Dia 28, insistindo em manter o ritual, surpreendi-me com a notícia. Custou encontrar os vencedores. Senti, inclusive, saudades de quando o máximo de futilidade eram os comentários acerca dos vestidos. O ator Will Smith combinou com o comediante Chris Rock e fez o que melhor sabe: enfiou um tapa cinematográfico. De brinde, concluiu com uma fala digna de um vilão de “faroeste”: “Tire o nome da minha esposa da porra da sua boca”. O movimento exagerado da boca foi perfeito,  porém ele

Shopping Cidade Jardim 🔵

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  Eu sempre gostei de shopping e achava isso normal. Pelo menos, até ir ao shopping mais exclusivo de São Paulo à época (talvez ainda seja), o Cidade Jardim. Esse centro de compras, entretenimento e alimentação é tão proibitivo, refratário para gente não “diferenciada”, que não tem entrada para pedestres.  Eu resolvi conhecer um local onde sabem a qual classe social você pertence (e se você é alguém interessante) pela etiqueta da sua roupa. Entrei ali, trajando tênis surrados, calça de agasalho, jaqueta jeans gasta pelo tempo e um boné velho. Com essa roupa, digamos, “despretensiosa” devo ter sido estigmatizado e observado como alguém que “caiu de pára-quedas” nesse shopping. Eu até poderia ser alguém descolado, despojado, excêntrico, mas eu era facilmente identificável como pobre. Acho que é um carimbo imaginário: POBRE. Isso te torna, automaticamente, ao se aproximar de uma loja fina: suspeito. No mínimo um curioso. Os seguranças devem ter seguido cada passo meu. Fico imaginan

Censura livre

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  O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, fez o que melhor sabe: o “serviço sujo”. A suspensão do Telegram (rede social) atrapalhou a vida (honesta) de muita gente, entretanto atendeu muitos interesses escusos. A Globo conseguiu o que queria. Fingindo estar preocupada com crimes nas redes sociais, a rede de comunicação exibiu suas diretrizes em forma de reportagem no Fantástico. A emissora carioca praticamente disse: É isso. Obedecendo o “start”, Moraes atendeu. Miriam Leitão, apresentadora da emissora, talvez pretendendo ser uma espécie de funcionária do mês ou apenas tentando manter o emprego, externou (no ar) a sua vontade (e da emissora): que Jair Bolsonaro fosse banido das redes sociais. A senha já estava sendo dada e a manobra urdida. É fato que a audiência dos canais de televisão vêm caindo por causa da internet, mas a reversão deste movimento é impossível. O que a Globo conquista é a antipatia de quem procura uma tela que o distraia. As outras

O eleito

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  Grande parte da imprensa já havia eleito Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia, o “herói da resistência. Seguindo a velha tática “Big Brother Brasil”, o papel de vilão ficou com Vladimir Putin (por razões óbvias); bastou a Zelensky existir para a velha imprensa impor o roteiro da guerra e começar a “construir” aquele que cumpriria o papel de herói na narrativa ensaiada. A revista Caras de Portugal, inconformada com seu papel quase inútil na cobertura de uma guerra, estampou (na capa) o primeiro casal da Ucrânia no estilo “o  presidente e a primeira-dama são flagrados curtindo o friozinho de Campos do Jordão”. A dupla ucraniana ganhou o texto (na capa da revista) de: “ A resistência.  Demonstrando falta de qualquer empatia ou “timing”, os dois foram retratados com sorrisos e poses de subcelebridades. Justiça seja feita, não se sabe quando foi feita a fotografia do casal alegre. Volodymyr Zelensky, o comediante, demonstra alto poder de comunicação. Diferentemente do seu pod

Counter Strike

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  O que leva alguém, ao contrário dos refugiados, a se voluntariar para combater numa guerra que não é sua — pior, que o lado aparentemente inocente está fadado a perdê-la? Excesso de realidade virtual, muito videogame (no qual sempre há mais que uma vida), uma visão romântica do documentário “Winter on Fire ou a busca de sentido na vida — para quem não tem nada a perder, tanto faz entrar pro Estado Islâmico, entrar na Legião Estrangeira ou se alistar num exército qualquer. Têm também os motivos mais esportivos, querendo provar os limites: supondo que a guerra é uma tipo de “ CrossFit ”, esporte radical, “reality show” ou treinamento do BOPE. Somente são exibidas entrevistas com heróis de guerra, dificilmente sequer é mostrado um hospital de mutilados. Muitos dos mortos não têm nem a “sorte” de ser levados a um hospital e são atirados numa vala comum. Na realidade a guerra só é romântica nos filmes e a coragem dura até o primeiro disparo de arma de fogo em sua direção. As guerras

Bar do motoclube 🔵

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Esse simpático boteco era, de fato, um ambiente familiar. Mais precisamente, “ de la famiglia ”. A frente era, basicamente, um disfarce. Não chegava a ser um “ speakeasy” (bar escondido da Lei Seca). No máximo, além de matar a sede, a contravenção restringia-se a uma máquina caça-níqueis — essas de periferia — e um “ pinball” franqueado a menores, funcionando como introdução ao vício. O ambiente enganoso começava a desmoronar à medida que se avançava no corredor em direção aos fundos da espelunca. No corredor, ficava a máquina de fliperama, apenas como convite ao vício, porque atraía os mais jovens. Nos fundos do botequim, nada mais do que um quintal, recinto apenas permitido a convidados. Somente ía direto para lá, quem conhecia bem o lugar. No quintal, ficavam uma mesa de bilhar — viciada, como alguns dos frequentadores — com alguns tacos tortos, gizes umedecidos, mesas e cadeiras (de ferro) dobráveis, um aparelho de som e uma churrasqueira do motoclube. Alguns copos americanos v

Traumatismo ucraniano: o babaca foi pra guerra 🔴

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  Não há nada tão ruim que não possa piorar. Arthur do Val (Mamãe Falei) e Renan Santos, duplinha do MBL (Movimento Brasil Livre), foram à Ucrânia — enquanto muitos tentam sair de lá — levando uma bagagem lotada de estupidez. Piorou. Arthur confundiu a guerra com uma manifestação na Avenida Paulista ou uma balada. Pelo menos todos ficaram sabendo o que o deputado estadual tem na cabeça. O garoto de 35 anos viajou, com financiamento, para “turbinar” sua narrativa eleitoral, mas o tiro saiu pela culatra. O lamentável turismo rendeu, acreditem, a manufatura de alguns coquetéis molotov que ainda hão de incendiar ou matar alguém. Pois é, o potencial de  maldade que esse político pode causar é inesgotável. Pelo jeito, assistir ao documentário da Netflix ‘Winter on Fire’ ajudou o garoto a romantizar a guerra. É inacreditável “Mamãe Falei” ter cometido uma tentativa de ser prefeito de São Paulo, o mais inacreditável foi terem votado nele. O sujeito é (era) pré-candidato ao governo do e

O Castelinho da Rua Apa 🔵

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  Muito me intrigava aquele imóvel encravado numa esquina da Avenida São João. Algo acontecia no meu coração, mas sei que não era coisa boa. O sobrado antigo e fantasmagórico resistira às demolições paulistanas. A arquitetura lembrava um castelo europeu, o abandono e a escuridão remetiam a uma historia de terror sem término, por isso tinha o aspecto provocativo, querendo contar um litígio mal resolvido. Aquele sobrado parecia desabitado, o que era muito pior que abandonado (não sei o porquê). Eclipsado pela feiúra do Minhocão e imóveis mais modernos, a antiga moradia, mesmo escurecida pela fuligem impregnada, causa-me uma mistura de sensações: curiosidade e horror. Toda vez que eu passava ali de noite, minha conversa com a minha namorada cessava. O comportamento estranho não era à toa. A residência foi palco de uma tragédia familiar: em 1937, a mãe e dois filhos foram encontrados mortos ao lado de uma pistola. A casa, construída no início do século XX, abandonada, escura, destoando do