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Mostrando postagens de abril, 2022

Diga aonde você vai, que eu vou varrendo

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  O STF deu uma mãozinha. Não, foi uma mãezona e deu uma mãozona. O Supremo Tribunal Federal retribuiu a generosidade e tornou Lula elegível. Os senadores fingem que os ministros possuem notório saber jurídico e a conduta ilibada e os ministros também fingem na hora do julgamento. Os resultados são inconstitucionalidades normalizadas. Mas o assunto é outro. Com toda a ajuda a Lula, a imprensa não podia ficar de fora e colocou o ex-presid... em primeiro nas pesquisas. Fora a própria imprensa, pouca gente “comprou” essa ideia. Logo, quem duvidava das tais pesquisas era tachado de bolsonarista, que usava chapéu de alumínio ou acreditava  na teoria da Terra Plana. Mas o maior erro foi atribuir aos pesquisadores a detecção de um cara, que tem medo de sair às ruas sem sua claque, quase vencendo em primeiro turno. Como nem o PT engoliu a lorota, resolveram trocar o marqueteiro. Aí “a casa caiu”.  Como uma equipe que substitui o técnico líder do campeonato, o Partido dos Trabalhadores

Bingo! 🔵

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  A cada pedra cantada percebi que eu poderia ser o grande vencedor. A coincidência só podia ser um sinal de que, naquele dia, a sorte estaria do meu lado. Adquiri uma autoconfiança típica dos vencedores. Sim, eu disputava um animado bingo de quermesse numa capela do interior. Com direito a velhas piadas como “dois patinhos na lagoa”, “idade de Cristo”, “uma boa ideia” e “vai começar o jogo”, travei a batalha entre idosos, alguns jovens e viciados numa jogatina legalizada. Pois bem, a profusão de “números bons” me levou a ficar “pela boa”. Ignorando as reclamações e desistências dos meus concorrentes, grudei os olhos na cartela, guardei o fôlego e fiquei na expectativa de soltar o grande grito. Não deu outra. Eu gritei com vontade: bingo! Berrei com potência e fiquei ouvindo os protestos da velha guarda. Triunfante, escapando do linchamento e pedindo passagem para ser notado, fui receber o merecido e grandioso prêmio. Cheguei como quem receberia um diploma; saí, meio sem-graça,

Budismo high-society 🔵

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  Só poderia ser ali, a única casa em estilo oriental da região. A decoração “muito louca e os  sininhos na porta não deixavam mais dúvidas. Se fosse centro de macumba a localização seria em Itaquera, Cidade Tiradentes, Parelheiros ou qualquer bairro de periferia. Mas como era a religião dos ricos e famosos, o endereço do templo budista era no bairro de Perdizes, barro nobre de São Paulo. Chegando lá, tive que encarar uma turminha que estampava o arquétipo perfeito de quem fazia mapa astral, jogava tarô, acreditava em ETs, bruxas, gnomos, energia, esse tipo de coisa. Ah, também viajava para lugares como São Tomé das Letras. Ninguém poderia descobrir, mas eu era um corintiano comum e superficial sem análises muito embasadas da existência, apenas à procura de uma cerimônia diferente da missa católica. Me adaptei como pude: só com meias, falei mansamente “ namastê” (fazendo o gesto) até para o porteiro. Me apresentei e segui todo o ritual. Como não conseguia ficar na posição de lótu

Carnaval fora de época

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  Pandemia, guerra e eleições. Quase não discutimos futebol — em ano de Copa do Mundo e onde já foi considerado o país do futebol. O Carnaval oficial, copiando o carnaval fora de época, ocupou um cantinho da agenda, em abril. Afinal, para alguns, têm que haver os dias do “golden shower” público e aceitável. Mesmo para quem gostava da festa, o feriadão se tornou a oportunidade ideal para cair na estrada, fugindo de foliões exagerados (do tipo: ”eu nunca me diverti tanto”).  Esse “Carnabril” (outono), depois das múltiplas doses das vacinas, das máscaras, do isolamento social e do “lockdown”, pareceu-me uma concessão governamental para a diversão. A alegria carnavalesca, por ser datada, sempre exalou artificialidade; este ano, por ter sido adiado, pareceu mais mecânico — tipo: a partir de hoje e daqui pra lá tudo é permitido. De repente, apesar de tudo, era obrigatório, pelo menos, aparentar estar feliz. É a “Facebooklização da Festa de Momo. Nessa folia permitida, emulando pseudo

Óleo de Fígado de Bacalhau ⚫️

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  A embalagem era medonha, o nome repugnante, o rótulo apavorante, a aparência do conteúdo péssima e o sabor horrível. O conjunto espantava qualquer um, mas diziam que, paradoxalmente, fazia bem. A vitamina vinha disfarçada com o eufemismo ininteligível de Emulsão Scott , mas a máscara desabava após uma observação mais detalhada. O rótulo exibia uma imensa e animadora relação de vitaminas, que não resistia ao asqueroso e pior nome que uma vitamina possuiu: Óleo de Fígado de Bacalhau. Para piorar — que sempre é possível piorar as coisas — o tônico trazia (e ainda traz)  a estampa de um senhor arrastando um imenso peixe nas costas. O sofrimento chega ao paroxismo quando o líquido é ingerido. De sabor horrível e viscosidade nojenta, o negócio é difícil de ingerir, a imagem do bacalhau abatido torna a tarefa quase impossível. Eu engolia isso como um ganso de “ foie gras” .  Hoje, apesar do péssimo nome e da figura exibida, o fortificante oferece os deliciosos sabores laranja e morango.

Operação Cavalo de Troia

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  Não foi tão estranho Geraldo Alckmin externando um pensamento aliado ao de Luiz Inácio Lula da Silva; esquisito foi Alckmin tentando falar com as massas igual ao petista. Faltou voz, faltou carisma e faltou convicção. O ex-governador erra ao trocar de plateia; ele nunca será persuasivo querendo insuflar um bando de sindicalistas sedentos por sangue, como era quando se comunicava como um padre numa homilia. Geraldo tentou esconder o Alckmin que habita aquele corpo, mas foi mais “picolé de chuchu” como nunca. Mas se engana quem acha que a intenção de Alckmin é unir forças com Lula para construir um país melhor. Político matreiro (“das antigas”), Alckmin está dando o seu jeito de infiltrar-se no Palácio do Planalto. Pelo voto, apesar das tentativas, não surtiu efeito. Vestir um colete estatizante não convenceu, pelo contrário, afastou aqueles, como eu, que pensavam que o PSDB era de direita. Não encontrou outra solução, juntou-se ao líder populista para tenra subir a Rampa. Até imit

Por que eles odeiam a classe média?

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  Tornou-se célebre o discurso de ódio da filósofa Marilena Chauí. Em monólogo libertador, a, vá lá, filósofa exalou todo seu rancor e raiva contra a classe média. A manifestação vocal demoníaca foi proferida sob risos e aplausos concordantes de Lula e alunos da USP. Os alunos que aplaudiram também devem ser ricos ou pertencer à desprezada classe. Marilena Chauí, musa do PT, odeia tanto a classe média que tratou de abandoná-la, tornando-se rica. O vídeo, que já é um clássico, está disponível no YouTube. Recentemente, foi a vez do Lula revelar o desejo de eliminar a classe média. Com um texto assustador, Lula definiu quantos aparelhos de TV essa classe social pode ter. Ato falho ou sinceridade crua, são dois bons motivos para temer um novo governo do bandido. A classe média é a que mais sofre os solavancos da Economia. Sua mobilidade social tende para baixo por causa da insegurança do nosso país. Uma crise mais séria significa liquidação  e bazar de garagem na combalida classe. Ti

A Ilha da Fantasia 🔵

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  Aquilo não era uma ilha, mas era alguma cerveja cercada por muita sede. O imóvel era, injustamente, chamado de restaurante. Talvez por causa do salão grande com pé-direito alto e uma mesa de sinuca com feltro grudento, madeira estufada e tacos disformes. Um deserto no meio do oásis: era isso o que aquele bar parecia representar para o dono. Quando fazia um belo dia de sol, para nós era um convite para prestigiar o estabelecimento comercial do Português, molhando a goela e beliscando um tira-gosto. Para o Português, significava trabalho. Isso era péssimo, motivo para uma preguiçosa reclamação. Se o dia fosse ensolarado, pior, pois interrompia seu planejamento diário: fazer nada pela manhã; de tarde, descansar; à noite, não fazer coisa nenhuma; depois, descansar. Naquele paraíso, a definição de bom e ruim era inversamente proporcional para o Português e sua clientela. O proprietário só queria evitar a fadiga e nós, representantes de uma terrível ameaça cheia de sede, um modesto r

Crenças de luxo

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  Dava muito trabalho e custava muito ostentar um estilo de vida exclusivo e ao menos aparentemente nobre; agora basta aderir a causas aparentemente nobres como: “Black Lives Matter” ou levantar uma bandeira progressista qualquer (quaisquer diversidades). Achar a Greta Thunberg “do caramba” já é um bom começo. Basta sinalizar virtude para parecer um ser humano melhor e mais engajado (mais preocupado com as classes menos favorecidas).  O problema é quando a dissonância cognitiva deixa a diferença entre o que se pensa e o que se fala transparecer, ficando óbvio que a ostentação de uma bandeira progressista é resultado de uma elite culpada, pedágio intelectual ou o preço para pertencer a uma turminha. Transpondo todas as barreiras, é muito mais acessível frequentar o clube exclusivo e imaginário das “pessoas inclusivas e empáticas”.  As crenças de luxo são o novo passaporte de livre acesso a este clube que confere “status” social. Entretanto, o preço comportamental é alto. Como nas

O espancamento 🔵

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  J..., o pobre condenado, já estava amarrado no poste. Não havia a menor chance de escapar daquele iminente martírio. A sessão de espancamento iria começar. Todos estavam armados com o que houvesse: paus, pedras, objetos contundentes, perfurantes, cortantes, perfurocortantes, explosivos e um galão de gasolina — que denunciava o triste e cruel final daquela justiça com as próprias mãos. O desgraçado J... tinha cometido o crime há muito tempo. Curiosos intervieram — na verdade, tentaram —, mas foram rapidamente dissuadidos. Na sede por sangue e na lei da periferia não havia perdão nem prescrição de traição. Sem a menor chance da imolação pública ser adiada e todos já armados, quem discordava da violenta tradição deveria resignar-se e sair de perto. Arremessaram uma pedra. Começou uma sequência de golpes com paus, pedras e demais instrumentos. De vez em quando lançavam morteiros na direção do infeliz. Alguns, corajosos e mais empolgados ou com muita sede de justiça invadiam a “linh

Roubada 🔵

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  A rotina aciona automaticamente o piloto automático. Isso aconteceu num dia comum. Ela foi com seu automóvel ao salão do clube central da cidade. Já estava acostumada com o trajeto, pois fazia aquele caminho e estacionava, praticamente no mesmo lugar, várias vezes ao dia, durante semanas. Acostumada a encontrar a mesma cena, o carro estacionado atrás do clube, assustou quando se deparou com a triste realidade que batia à sua porta: agora ela era apenas um número a mais na triste estatística dos furtos de veículos. Era péssima a sensação de sair de São Paulo para ser tapeada numa cidade do interior. Conclusão: somente uma pessoa sem coração, muito ruim, seria capaz de provocar tanto mal. Quem, de onde seria e onde estaria ser tão perigoso, que não merece nem ser chamado de ser humano? A inusitada ocorrência interrompeu o sossego da cidadezinha. Transeuntes e funcionários saíram das pequenas, médias e grandes lojas, todos curiosos com o grande escândalo. Pois bem, para resolver o

Canarinho Pistola ⚫️

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  Essa brava avezinha ganhou esse singelo apelido porque carrega a aparência assustadora, espantando qualquer tentativa de aproximação amigável dos torcedores de seleções adversárias ou manifestando todo o seu descontentamento com o futebol demonstrando pela Seleção. Dizem as más línguas (as boas também) que o passarinho representa o estado de espírito do nosso povo após o 7 x 1. Dizem que depois do fatídico placar, o bicho desenvolveu a expressão que estampa seu crônico aborrecimento. No entanto, isso não passa de maledicência, porque, além do infortúnio ter sido há muito tempo, o descontentamento e a aparente cara de poucos amigos ter se eternizado, a figurinha cosmopolita atrai diversos torcedores, independente da origem. Nosso animal já é um vencedor, porque não é obrigado a exibir aquela expressão facial besta (eternamente alegre) dos sorridentes mascotes vendedores de algodão doce. É sempre oportuno esclarecer, que escondido atrás da máscara com um falso sorriso de alegria

Bar do Léo 🔵

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  Avistamos o local, era bem simples. O tanto que falavam desse bar, levou as expectativas a um patamar que tinha alto potencial para frustração. E foi assim. O famoso Bar do Léo era bem comum, até pior que vários outros. O lendário barzinho do Centro de São Paulo tinha como símbolo um simpático leão. Mas não chegamos ali por causa do leãozinho e sim do tão falado chope. Por ser pequeno, você podia optar por desviar de mesas e cadeiras espremidas ou ficar na calçada, em pé. Preferimos a segunda opção, mesmo não tendo outra escolha. A espelunca era bastante concorrida e todos tinham estampada na cara a expressão de estarem bebendo o premiadíssimo Chope Brahma com um colarinho cremoso de milimétricos três dedos de espessura em um ambiente “ vintage” do veterano Bar do Léo e beliscando deliciosos petiscos. Além da tradição do estabelecimento, outros diferenciais prometidos não chamavam a atenção, desde que a bebida chegasse bem gelada ou o cliente fosse muito detalhista: os barris, à som

Bêbada política

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  Lula teve mais um ataque de populismo explícito. Em cima de um palanque, para uma plateia amestrada, ele ensinou como se encerra uma guerra. Para ele, tudo se resolve tomando uma cerveja. Não sei se essa resolução faz parte das promessas de campanha, mas é uma proposta irrecusável e digna de prêmio Nobel.  A ideia é muito simples, só fica meio perigosa quando ele começa a enumerar as garrafas. Foi aí que eu desisti de trazer a paz ao mundo. Na quarta garrafa eu já não evitaria o lançamento de uma única granada e seria internado com coma alcoólico ou me apresentaria numa reunião dos Alcoólicos Anônimos (AAA). Lula já ensinou como encerrar uma guerra interminável: palestinos x israelenses. Em dois mandatos, ele não conseguiu. Tal disparate fica bem mais fácil no alto de um palanque e a quilômetros de distância de qualquer disparo de obus. Agora sei que as garrafas que eu esvaziei foram em vão. As longas horas que eu gastei “gelando a goela” não tiveram um propósito tão altruíst

Comunidade distópica 🔵

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  Um fim de semana foi o suficiente para viver numa sociedade, pretensamente, ideal. O problema é que essa sociedade só sobrevive um feriadão, por isso é considerada uma utopia. Aqueles dias foram um experimento de como seria uma microssociedade hippie. Estavam todos muito solícitos, cada um exercendo sua tarefa no coletivo. Lembro bem de uma salada de frutas sendo preparada voluntariamente por uma dezena de mãos e igualmente devorada. Tanto o preparo, quanto o modo (em comunidade) que foi devorada seriam obrigatoriamente abolidos em tempos de pandemia. Mas essa realidade ainda era papo de livros de História — Peste Negra e Gripe Espanhola —, de modo que parecíamos uma tribo de índios em completo isolamento da sociedade capitalista corroída pela competição. A comunhão, a paz e o “bichogrilismo” estavam alcançando níveis incompreensíveis  e  inadmissíveis para o meu ceticismo, a ponto de alguém ameaçar iniciar a “dança ritual do fogo”, celebrar o Sol, a Lua, as matas, as águas, o

Doutores da agonia 🔵

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  Não há viagem de ônibus que seja tão entediante que não possa piorar. Pois foi assim que, num ponto lotado, embarcou um sujeito pretendendo alegrar parte do trajeto. Avaliando que resultado ele poderia obter, calculei o grau de caracterização do ator: maquiagem mal-feita (borrada) e avental surrado e encardido. A composição toda era muito triste. O cabelo desgrenhado era a única coisa que gerava uma graça involuntária. O palhaço triste pretendia ser um “doutor da alegria” genérico, mas estava muito claro que o infeliz precisava de ajuda, não o contrário. Nem a maquiagem escondeu sua angústia. Infelizmente,  sua atormentada realidade apenas se somou à de outros quando ele embarcou naquele coletivo. O número, ou a tentativa de alegrar alguém, foi constrangedor, o que só tornava o ambiente pior. Pensei: palhaço, você não é engraçado. Só não vocalizei minha conclusão por medo que o pretenso parlapatão fosse linchado. Provavelmente, isso só tornaria as coisas piores e me causaria dó