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Mostrando postagens de maio, 2022

🔵 A Praça do Pôr do Sol

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  Saindo da FNAC Pinheiros, cinco da tarde, no inverno o Sol se escondia às cinco e vinte. Sábado, só sairia umas dez da noite, então não custaria me infiltrar entre uma turma que abraça árvores e aplaude o pôr do sol.  Não seria novidade, para quem passou a tarde entre uma “galerinha natureba” que acha que vai salvar o planeta e a si bebendo suco detox, usando canudo de papel, usando copo reutilizável, construindo móveis com madeira de reúso, armazenando água da chuva e reciclando lixo, mas queimando diesel. Para completar minha inserção no universo “esquerda de IPhone” e elevar meu ranking de “bichogrilisse” ao máximo, fugi, sem sucesso, das onipresentes “contações de histórias”. Eu fui à FNAC sabendo que de sábado era, infalivelmente, assim. A livraria ficava muito perto da Vila Madalena, portanto sabia onde eu estava pisando. Cheguei a pé à Praça Cel. Custódio Fernandes Pinheiro. Tá, Praça do Pôr do Sol, no Alto de Pinheiros. O lugar ganhou esse nome, porque é um dos raros l

Cancelamento da derrota

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  Nem Governo de São Paulo, muito menos a uma Presidência da República. João Doria achou que bastava se escolher, no entanto nem o PSDB, seu partido, acreditou na candidatura. O político que representaria a terceira via dos sonhos para o “stablishment” é o Eduardo Leite.  Discreto, ele é muito parecido com os social democratas europeus, portanto perfeito para cumprir as agendas da Organização das Nações Unidas (ONU), obedecer todas as diretrizes ambientais, demarcar terras indígenas, enfim, obedecer tudo o que vem do exterior, mesmo a ordem sendo de países muito poluidores. Entretanto, por trás daquele rosto inocente há um ditador, foi o que vimos durante a pandemia. Para impedir a contaminação, o, então, governador do Rio Grande do Sul lacrou corredores de supermercados. Voltando a falar do ex-governador de São Paulo. Na despedida da candidatura, o tom da fala, a expressão, os gestos, exatamente tudo foi calculado e planejado a fim de atingir um efeito esperado e repercutir como

🔵 Livros, café e rock and roll

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  Depois de ver (e ouvir) os últimos lançamentos de CD’s e alguns mais antigos, nada mais óbvio que fazer a mesma coisa com os livros. Tratando-se de uma livraria, era tudo o que eu poderia fazer, certo? Errado. Feito o “ upgrade” musical e literário, alimentando o espírito, era hora de alimentar o corpo.  Pedi um salgado e um café no Fran’s Café da FNAC da Avenida Paulista. Encontrei uma mesa vaga. Sorte, para um sábado. Coloquei o diminuto, embora caro, café da tarde na mesinha e sentei. Os “ roadies” “plugaram” os amplificadores e retornos, afinaram a guitarra e o baixo, ajeitaram os microfones e a bateria, pronto. Era só a banda entrar e tocar. O “ pocket show” do ‘Doctor Sin’ compensaria o caro desjejum, dando até uma boa vantagem no custo-benefício.    *** São Paulo, 16 de janeiro de 1993, estádio do Morumbi. O Dr. Sin subiria ao palco, naquele inesquecível Hollywood Rock, antes das bandas Engenheiros do Hawaii, L7 e Nirvana, respectivamente. Todas as apresentações foram OK, m

🔵 Eu poderia estar roubando, matando...

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  Eu apenas preciso que o transporte me leve do ponto A para o ponto B. Mas não é isso o que acontece. Sobretudo nos trens, vendedores oferecem comidas — à base de corante, aromatizante, conservante, acidulante e gordura vegetal — vencidas em troca do meu sagrado dinheirinho. Eles surgem por baixo das catracas dos ônibus ou do fundo do vagão do Metrô ou trem ameaçando os passageiros com o seguinte discurso: “Eu poderia estar roubando, poderia estar matando, mas estou vendendo estas balas…”. Para despertar alguma empatia, a desgraça não podia ser pouca, então ele elencou um combo de mazelas para todos os seus familiares. Exemplos: unha encravada, câncer, desemprego e dívidas. De cara, sou levado a pensar: Que cara legal! Depois, penso: Que azar, mas ao menos ele tem alternativas, eu sou obrigado a cumprir meu horário na empresa. Finalmente, raciocino melhor e concluo: se ele poderia estar roubando ou matando, a vítima poderia ser eu. Isso foi uma ameaça.  Entretanto, enquanto eu f

“Dá que eu te dou outra”

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  Bolsoringa, corruptela das palavras Bolsonaro e Coringa, traduz o comportamento destruidor do Capitão. Cansado de ser enganado por políticos polidos, fala mansa,  ternos bem cortados  e respeitadores da chamada liturgia do cargo, articulando às escondidas, ciosamente costurando exitosos acordos e dialogando com a oposição, queria um presidente que chegasse chutando a porta, voando com os dois pés no peito, malucão, boquirroto e com um portfólio de piadas ruins (tiozão do churrasco). O sujeito sem modos, até engraçado, de um autoritarismo folclórico, anacrônico é o presidente. O frequentador de programas “trash”, como o SuperPop, e zoado no CQC, chegou lá. No início, achei bem cômico aquele militar sisudo e mal ajambrado, nos aeroportos, sendo carregado nos ombros aos gritos de “1,2,3... 4,5mil... queremos Bolsonaro, presidente do Brasil”. Sinceramente, achei que era curtição da molecada a fim de colher algumas boas fotografias para o Facebook. Engano. O cara estava sendo conduzid

🔵 Andando com umas companhias esquisitas

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Esse é o tipo de aventura que só se vive na Disney ou, com muita sorte e baixo orçamento, no Beto Carrero World. É provável que, com parcas finanças, você tenha visto no filme ‘O Mágico de Oz’. Porém, mesmo sem nenhuma moeda, vivi esta improvável e inesquecível saga. Nas férias de verão, um trenzinho cheio de personagens (como a Carreta Furacão) surgia como opção de entretenimento infantil: Snoopy, Fofão, Mickey, Pica-pau, Cuca etc ficavam responsáveis de enganar os pirralhos. Mesmo quem não tinha dinheiro para embarcar no trem, queria participar da atração.  Entre os meninos menos endinheirados estava eu, também porque essa modalidade era mais divertida. Assim seguia o séquito de moleques com bicicleta ou correndo, interagindo com os bonecos. No meio do périplo animado, o Fofão e o Snoopy ou o Mickey foram deixados para trás. Eu e uns 3 moleques, não lembro se ficamos no caminho ou em solidariedade aos personagens, ficamos caminhando pelas ruas do bairro numa configuração curiosa. Con

A revolução dos imbecis e a revelação do imbecil

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  Tem uma turminha que cospe palavras e expressões fora de contexto. Tudo dá a entender que nem sabem o sentido do que dizem, nem sequer o significado das palavras e expressões, que funcionam como coringas. Fiquem espertos, estão querendo te enganar, quando tascam: democracia (e variações), republicano e Estado democrático de direito. Quem diz isso, do nada, para se livrar de uma questão embaraçosa, provavelmente, está querendo tergiversar e, por sua vez, te engambelar. Afinal, quem seria contra o Estado democrático de direito (seja lá o que isso signifique)? Quem contestaria uma frase que contivesse a palavra “democracia” (essa palavra tão linda)?   Temos visto ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), principalmente Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Alexandre de Moraes e o presidente do Senado Federal se inflando com arrogância, suntuosidade e pompa para embutir um (ou mais) destes termos. Tenha certeza, esse fingimento todo é para nos enganar. Ultimamente, esta  estratégia

14 Bis e as meninas dançarinas do Centro Cultural 🔵

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  Chegamos atrasados, mas o show não havia começado. A sorte foi não existir lugar para sentar. O jeito era ficar em pé ou sentado no chão... ao lado e da mesma altura do palco. Foi simplesmente o melhor lugar para se assistir a um show musical: o 14 Bis. Foi muito interessante testemunhar a tensão de um show. Estávamos tão próximos que os impropérios  do Claudio Venturini e Marcão pareciam endereçados a nós. Entretanto, era o “ roadie” que, entre fios e botões, recebia os xingamentos, procurando a regulagem ideal do som. Ver uma apresentação tão próximo do palco era uma experiência única, mas também frustrante, porque eu estava acostumado a assistir, de longe, a uma ilusão. Contudo, pelo contrário, o que testemunhei foi o conjunto musical, cujas letras falam de futuro, esperança e amor, distribuindo farto repertório de palavrões para o pobre funcionário. Sendo assim, a magia da música e seus significados perderam sua magia e tudo parecia uma fábrica de salsichas. Diria mais, eu

Chorão — Marginal Alado 🔘

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  Excelente o documentário “Chorão - Marginal Alado”. Documentário, que deveria ser um filme, tem mais a característica de uma biografia do vocalista da banda “Charlie Brown Jr.”. Embora, além do ótimo baixista Champignon, a banda tivesse bons músicos, quem se destacava era o Chorão — muito pela personalidade explosiva. Ele foi um roqueiro de verdade, com a tal “atitude” antes de a palavra virar modinha e esvaziar-se.  Alexandre Magno Abrão, o Chorão, iniciou como “ bandleader” “metendo o pé na porta”. Ele subiu no palco para “brincar”, enquanto o vocalista ia ao banheiro. Cantou uma do “ Suicidal Tendencies” ,  a galera pirou e ele ficou em cima de um palco até o fim da vida. O documentário passeia por diversas fases do músico, bem como do “Charlie Brown”. “Brother” ou marrento — Marcelo Camelo, João Gordo e Champignon conheceram a fúria de Chorão —, o cara foi a tradução do (mau) comportamento de um roqueiro. O filme enriquece muito e ganha aspecto de documentário clássico com

Se beber, não dirija 🔵

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  Entrei no meu carro e comecei a persegui-lo. Era um Voyage antiguinho, portanto equivalente ao meu Gol L 86 (“Gol quadrado”, portanto equivalentemente antigo), também da Volksvagen. A perseguição insana e implacável não poderia acabar bem. A busca frenética terminou depois de uma curva, de maneira abrupta, contra a vontade de ambos, mas cumprindo a previsibilidade.  Recapitulando, sem chances de neutralização, o motorista seguia em ininterrupta e veloz corrida. Impossibilitado de detê-lo, mas sem perdê-lo de vista, eu me aventurava com o valente Gol. A perseguição só cessou após uma curva. Depois da inoportuna esquina, na rua transversal, vinha outro veículo. Isto fez com que o Voyage fosse freado, e o golzinho também parasse. Só que em sua traseira. A caçada frenética findou somente com um desastre automobilístico. Eu e o outro piloto saímos dos carros para conferir os prejuízos. Os outros motoristas, pedestres e alguns moradores da região aguardavam uma briga, tiros ou, pelo

🔵 Os porões da 25 de Março 🔵

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  Zonas Norte, Sul, Leste, Oeste, Centro e outras cidades. Trabalhando como promotor de vendas em São Paulo, conheci pessoas, experimentei sabores e tive contato com idiossincrasias de cada bairro. No entanto, foi na região central que cheguei à pior situação que eu jamais havia arriscado conhecer. Se eu houvesse sonhado com essa asquerosa provação, acordaria aliviado, sem desejar tão triste realidade ao meu pior inimigo ou à mais ignóbil das criaturas que vagou pelo planeta Terra. Pois bem (ou mal), visitei uma intransitável loja, na intransitável rua 25 de Março. Fiz os procedimentos, abasteci a mercadoria e saí da loja. A caminho de outra loja, me lembrei de cortar o número do CNPJ das caixas de papelão para comprovar o abastecimento e, assim, complementar o salário. Fácil, era só ir à rua detrás e localizar as caixas que eu esvaziara há pouco. Só que não foi tão fácil. Tive que procurar as caixas desmontadas num lixão desconhecido por mim. Aquilo era o submundo do paraíso das

💊 Capítulo 2 — Hospitalizado

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  Eu me sentia estranho porque eu era um estranho. Quando resolvi sair do quarto, não sabia que iria encontrar um lugar que, para muitos, funcionava como um clube. Mas era um hospital. Aquele uniforme amarelo claro desbotado, somado à minha crescente dificuldade para caminhar, portanto débil, dava a impressão de ser um louco ameaçador à solta. Fui ao salão central daquele andar do hospital. A escadaria havia sido dominada pelos fumantes e convertida num irrespirável, embora animado, fumódromo. A cada aproximação, crescia o que parecia ser a reunião de elenco do “The Walking Dead” ou qualquer outro filme de apocalipse zumbi. Notei um inexplicável orgulho de quem estava institucionalizado. Essas pessoas faziam questão de demonstrar conhecimento de como as coisas funcionavam ali, o dia a dia, horários, atalhos e quem é quem. Eu só queria sair dali. Aquela não era a minha realidade. Ali não era o meu lugar. Aos poucos, os pacientes voltaram para seus quartos sem precisarem ser ch

Capítulo 1 — Oftalmologista 💊

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  Algumas complicações talvez fossem dificuldades oftalmológicas (mesmo que também motoras), afinal tudo surgiu juntamente à vista dupla. Como o relato, em casa, do que estava acontecendo não surtia efeito, fui ao médico oftalmologista, achando que a complicação era por causa da falta do uso dos óculos. No consultório, o médico surgiu. A primeira impressão do que vi, me deixou ressabiado. A cara de fugitivo de manicômio não assustaria muito, contanto que o diagnóstico fosse preciso e animador. A real preocupação começou quando notei algo muito errado com o homem de branco.  Com a proximidade da traquitana para “as vista”, ouvi os intermináveis estalinhos bilabiais que o doutor disparava. Certamente, numa distância socialmente aceitável eu não teria percebido o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC). Mas com a proximidade do exame oftalmológico eu ouvia muito próxima e com muita frequência a emissão dos estalinhos. Isso só me deixava mais nervoso. Era assustador ter que admitir, ma

Bolsa Família 🔵

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  Cada estande ou palestra só tinha um assunto: dinheiro; os papos com amigos e parentes giravam em torno de um único tema: investimento; eu gostava de visitar dois lugares: corretora e Bovespa; meu computador era ligado quando abria o pregão e desligado ao término da transação de papéis; bancas de jornal, programas de rádio e “sites”, praticamente tudo o que remetesse ao mercado bursátil era do meu interesse; até o “economês” foi instalado no meu vocabulário. Entrei nessa no auge da crise de 2008. Não deixou de ser uma estratégia, pois o mercado estava em baixa (barato). Acontece que os outros investidores estavam saindo correndo, talvez da vida. Contrariando o conhecido “efeito manada”, o mercado acalmou. A longo prazo compensava. O Mercado de Capitais era meu novo videogame, a diferença eram os valores que eu ganhava ou perdia em compras e vendas que foram realizadas com a volúpia e a facilidade de um toque no teclado do computador on-line. Eu fui um investidor classificado co

Polarização

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  A polarização é boa. Não, é ótima. Pensando bem, é excelente! A polarização significa dois pensamentos diferentes. O contrário é o pensamento único, que tacha a discordância como “fake news”, discurso de ódio, atos antidemocráticos ou coisa de robôs.  Cuidado com a intenção de quem quer rotular e eliminar a polarização, principalmente quem lança mão da palavra/coringa: democracia e suas variantes. A polarização só é ruim quando gera briga e separação. Os Estados Unidos, exemplo de democracia e liberdade, vivem uma polarização eterna: republicanos e democratas. Alexandre de Moraes, copiando o pensamento de Umberto Eco, disse: “a internet deu voz aos imbecis”. Concordo em parte. Dou razão a ele quando vejo suas “lives” e tenho acesso a fragmentos do seu, por assim dizer, pensamento fora dos autos. Discordo por perceber que a internet também deu voz a gênios, norte-americanos, russos, brancos, negros, corintianos, palmeirenses, você e eu. Democracia, igualdade, tolerância, liberda

Corinthians - Série B (a arte de cair para cima) 🔵

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  Não seria um domingo qualquer. Apesar de eu ir a um jogo de futebol, não era uma partida normal e eu assistiria num local diferente. O Corinthians poderia ser rebaixado de divisão e eu torceria para que isso não ocorresse. Fui ao Parque São Jorge, clube do Corinthians. Desci do ônibus na Estação Carrão e fui andando até o clube. Confiante, comprei um bandeirão na rua São Jorge. O  espaço armado para a torcida era estrategicamente localizado ao lado da lanchonete. Havia mais gente do que eu esperava e, surpreendentemente, uma turminha da temida torcida uniformizada. O clima geral era bom e a expectativa, muito positiva. Alguns repórteres e fotógrafos esperavam, como sempre, entrevistar algum corintiano revoltado ou em prantos. Isso, provavelmente, venderia muitos jornais, revistas e renderia matérias icônicas. Seria uma boa aparecer na televisão, mas nunca nessa situação. O Timão, em 2007, tinha uma equipe que não fazia jus ao apelido. Além de estar jogando muito mal, dependía