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Mostrando postagens de julho, 2022

🔵 Rock in rio

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  Rumo a São Paulo para o show dos Rolling Stones, no Pacaembu, e voltar, depois de uma hora e meia de viagem, para pegar os ingressos esquecidos instigou, dando a impressão que eu também esquecera algo. Mas eu não iria, já estava resignado. Em Guarulhos, instigado pela expectativa da apresentação da banda e exibição dos respectivos bilhetes, não pensei duas vezes quando surgiu uma entrada para ver o show. O ingresso parecia dizer: me possua. Como não vivi os loucos anos sessenta, o cartão falando só poderia ser ilusão de óptica. Portanto, mesmo de cara limpa, eu seria seu novo dono.  Chegando no Pacaembu, não nos espantamos com várias figuras no estilo “Hell’s Angels”, mas, logo vimos, estávamos num concerto de rock para um público mais, digamos, maduro. Como nós, havia um público jovem que parecia ter se perdido dos pais ou se enganado de show. Não teve como vivermos uma tarde sem a sensação de pertencer ao fã clube da Sandy & Junior. Mas isso durou pouco, afinal, minhas credenci

Para quem odeia quem tem ódio

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  Acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é. É com essa inversão de papéis que, sem se dar conta, aquele que age “dentro das quatro linhas”, pede desculpas a uma turba enfurecida. Nessa polarização política, quem ameaça, simula assassinatos e tenta matar, acusa o lado oposto e pacífico de pregar o “discurso de ódio”.  Muita gente só passou a conhecê-lo depois da polêmica do “atentado ao presidente”. Para quem não tem talento, é um bom subterfúgio: o choque causado pela obra, substituindo a ausência de dom, é chamada de “genialidade não compreendida”. No entanto, o cineasta Ruy Guerra, com 90 anos, resolveu entrar no jogo dos medíocres e transformar sua obra em panfleto. O cineasta disse que o vídeo do “atentado” foi tirado de contexto. Dentro do tal contexto deve ser exatamente o que foi interpretado. Mas, exercendo a minha boa vontade, sei, como Ruy Guerra também está careca de saber, que daqui a uma semana ninguém mais lembrara que esse filme existe. Sua sina é ganhar a

🔵 A ilha do medo

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  O objetivo era fugir do Carnaval. Fantasias, a música e a alegria de plástico poderiam ser trocadas por um retiro à base de cerveja, um feriadão longe da Capital e rock. Providenciamos o local ideal, barraca e partimos em dois casais para a “escondida” Prainha Branca. De fato, a tal Prainha Branca era afastada. Difícil de chegar. Ônibus, trem, ônibus intermunicipal, balsa e trilha. Havia aquele sacrifício para desbravar uma prainha deserta.  Depois daquela peregrinação, o que encontramos não foi um pedaço de areia inexplorado, ocultado por falésias e a Mata Atlântica. Para nossa surpresa, depois de vencer a Mata Atlântica, chegamos à sucursal da Grande São Paulo ou uma filial da piscina do Sesc Itaquera. Estava muito lotada, e não parava de chegar gente. A conclusão óbvia era que todos tiveram a mesma ideia: turistas querendo distância… de turistas. A vantagem era que a praia era muito bonita e conseguimos escapar do Carnaval – em algum lugar tocava um disco do Steve Vai, esse

🔵 Fecham-se os portões

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  O Corinthians estava com seu estádio em Itaquera quase pronto. O próximo jogo seria contra o Flamengo, adversário que nunca pude assistir porque não consegui entrar nesse mesmo estádio. Comprei o ingresso com antecedência, para evitar ficar de fora mais uma vez. O último jogo no Pacaembu, como mandante, antes do estádio próprio, seria contra a equipe carioca. Durante o caminho e o jogo relembrei cada local, dentro e fora do estádio, onde assisti a vários jogos: arquibancada, numerada, tobogã, geral, alambrado, portões e morro. O morro era um terreno baldio onde se via algo como um sexto do campo. Coisa de corintiano (maloqueiro e sofredor). Além disso, entrei no gramado (em show de rock), conheci o Museu do Futebol e algumas partes internas do complexo esportivo. Cenas tristes: porradas, bombas, sirenes, brigas de torcidas, tentativas de (e) invasão de campo e o saque do produto de um vendedor de amendoins (“de um lado esse carnaval, do outro a fome total...”). Lembrei das pes

🔵 Should I stay or should I go? (Devo ficar ou devo ir?) Café The Wall - Bixiga

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  O que esperava de um bar de rock, na Rua 13 de Maio? Uma boa banda de rock e uma noite agradável. No entanto, a atitude rock n’ roll e o comportamento “punk” foram suficientes para destruir o banheiro e alterar a rotina do barzinho. Tudo normal (considerando-se o estilo da casa), até que uma turminha de, digamos, delinquentes juvenis adentrou o banheiro. Todos muito loucos (como quem nunca se divertiu tanto), ao som de “Should I Stay Or Should I Go” do “The Clash”, os desajustados começaram a destruir o banheiro no ritmo da música. Também com pouca idade, achei conveniente aquela manifestação e corri usar o mictório. Sem conseguir segurar o riso (por causa da atividade inusitada), ouvi a sinfonia da destruição, composta de vários barulhos (inclusive vidros). O furacão foi embora. Um silêncio sepulcral denunciou que coisa boa não viria. Na saída, notei que o cenário era pior do que eu previa: espelho, “dispensers” de sabonete líquido e papel toalha e demais objetos todos fragmen

O que é isso, companheiro?

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  Jean Wyllys promete retornar. Seja lá qual buraco da Europa ele se escondeu, certamente  resolveu externar essa vontade sabendo que isso é uma ameaça. Mais que isso, como a ameaça é mediante a saída do Bolsonaro do Palácio do Planalto, o político filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT) imagina que será carregado em ombros amigos, no saguão do aeroporto, na sua imaginária volta à democracia. O ex-deputado quer repetir a história, e como ela se repete como farsa, ele pode cumprir a promessa, já que a mentira é sua zona de conforto. Sua eleição foi uma mentira, a qual ele logo fez questão de “presentear” um amigo com o cargo. Jean Wyllys diz que voltará para “reconstruir o Brasil. A questão é: se essa bravata não for sua arrogância habitual, por que ele não reconstrói a si mesmo? Um sujeito que cospe nas pessoas e gostaria de esperar um suposto fim do mundo entretido com sexo promíscuo e drogas não tem nada pra reconstruir. Logicamente, a única chance de ele voltar ao País par

🔵 Luz, câmera, ação

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  Parecia que finalmente havia chegado a hora. A equipe de filmagem era obrigada a me focalizar, bem como a iluminação revelar a minha atuação, em rede nacional. Bastava eu ficar atento e, quando anunciasse a matéria, liberasse o “ play/rec ”. Só isso. Depois, com a gravação feita, coloquei a fita VHS no videocassete 4 cabeças. A cópia não estava muito boa, mas o registro histórico já valia a pena, ficaria para a posteridade.  O resultado não foi como esperei. Inicialmente, numa mistura de euforia e expectativa, quis exibir o material, achando que portava uma relíquia sagrada. Segundos depois, decepção, vergonha e constrangimento. Conformado com a ausência de registro, apontei o meu braço que surgiu num canto da tela da televisão. Gesticulando, avisei, chamando a atenção de todos: “Sou eu, sou eu”. Sim, apareci no extinto noticiário policial do SBT, Aqui Agora. Estilo “espreme que sai sangue”, o programa vespertino policialesco era muito pior que Brasil Urgente e Cidade Alerta.

🔵 Tyson Free

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  Bairro de Santana, São Paulo, podia ser uma boa. Um barzinho com banda ao vivo: legal. O nome do bar era “Overdrive”; um lugar cuja tradução do nome é “ultrapassagem” não representava nenhuma ameaça. Detalhe importante: o ‘Overdrive’ era um reduto “punk”; passado o impacto inicial, todos conseguiram disfarçar o medo, prevalecendo a postura de quem não temia tribo urbana alguma que já pisou as ruas de São Paulo.  A bordo de um ônibus velho rumo a Santana, não havia motivo nem alguém admitiria a desistência. Chegando lá, pegamos algumas cervejas e fomos ao fundo do bar, onde uma banda destruía os tímpanos que insistiam em permanecer intactos. Mas éramos jovens e roqueiros, portanto ninguém teve a personalidade para reconhecer que aquele barulho era horrível. Então seguimos dentro da, digamos, casa... Através do corredor, examinando todo o trajeto, apenas piorou minha impressão. Espelunca foi a palavra perfeita que encontrei para descrever o local. A descrição inicial seria suficien

🔵 Noite dos clichês

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  Todos faziam questão de estampar uma cara de quem estava num bar de rock. Eu estava num território manjado, onde quase todos se esforçavam para parecer alguém mais interessante do que realmente eram. Com meu jeito despojado, bem como a parada repentina naquele barzinho, me faziam, sem esforço, parecer alguém pior do que realmente eu era. Isso às vezes funcionava, porque o campo para surpreender é enorme. Entretanto, algo poderia me introduzir num “lugar-comum”: o gosto por clichês. O bar até que era bem legal, parecia e tinha o clima do porão de um navio — foi essa minha melhor descrição —, tinha uma boa banda de rock e estava lotado. Tudo dava a impressão de estarmos numa festa americana, na qual todos sabem os papéis que tinham a obrigação de representar. Cada grupinho refratário a interferências ou alguma mistura comprometedora: populares, atletas, nerds, esquisitos e os sem-grupo. Essa configuração é muito ‘Sessão da Tarde’, muito clichê. Esse desenho já seria o bastante para

🔵 O cantor bêbado

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  O Antônio Marcos estava bebendo na padaria! Com essa efusiva exclamação, algo prometia interromper a rotina daquela casa. Mas quem foi o Antônio Marcos? O cantor e compositor fez muito sucesso como cantor romântico, também na Jovem Guarda. Agora estava ali, numa padaria perdida num bairro de Guarulhos, equilibrando um copo com álcool, contando as histórias do mundo artístico e algumas piadas de salão. Em casa, logo a notícia se espalhou. A partir desse momento, a curiosidade revezou a frequência àquela padaria. No começo dos anos 80, meus irmãos e eu éramos muito novos, mas suficientemente observadores para relatar o que estava acontecendo: a pessoa que cada um encontrou não era a mesma. Os efeitos do álcool fizeram que os que chegassem depois, encontrassem um cantor mais, eufemisticamente,  extrovertido. O processo de transformação tornava difícil o reconhecimento da figura cambaleante e histriônica que performava na velha padaria, escorado na geladeira de sorvetes. Definitivame

🔵 Um bom espetáculo

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  Cheguei no histórico teatro da PUC, o Tuca. Ao mesmo tempo, vinha o grupo musical, com visual típico de roqueiros. Tinha certeza que eu não havia errado, aquele ‘show’ mudaria minha relação com a Música. Adentrei um ambiente novo, para mim, e estranho para os espetáculos musicais que eu conhecia, mas não hostil. Tudo era diferente e muito confortável, comparado aos festivais de estádios. Lá, sim, nos antigos estádios o território era hostil e tudo concorria para que o espectador vivesse a pior experiência possível. Mas, ignorando os obstáculos — talvez pela pouca idade, muita energia e disposição para enfrentar quaisquer autoridades e proibições —, aquilo era divertido. Alguma mudança estava acontecendo. Cabelo bem penteado, bem vestido e comportado, parecia até que eu estava indo a um casamento.  Mas não, ali era o teatro da PUC, mas a apresentação não seria associada a nenhuma manifestação estudantil. Acostumado a encher a cara com cerveja em festivais de rock, talvez fosse c

🔵 Jornal pra embrulhar peixes e bananas

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Não perdia tempo. Assim que anunciavam que havia uma pilha de jornais, eu corria resgatá-los. Eu vendia os impressos na feira, que usava-os para embrulhar bananas e peixes. Era um triste fim para textos de excelentes jornalistas, mas poderia ser bem pior. Os periódicos eram das semanas anteriores, portanto velhos para manter-me por dentro dos últimos assuntos, porém novos para embrulhar peixes e bananas. Essa era uma maneira de juntar algum dinheiro e exigir uma esfirra, um copo de ‘Coca’ e troco de bala no recreio da escola. Essa prática laboral era precocemente capitalista, embora voluntária. Atualmente seria considerada trabalho infantil, talvez abandono de incapaz, e eu estaria condenado a engolir a merenda escolar servida pela prefeitura de Guarulhos. Também ficaria entregue à completa ignorância, isso porque não me desfazia dos jornais sem que fossem folheados. Com esse ritual, não deixava escapar as principais reportagens, colunas, opiniões, suplementos de cultura, esportes e, l

🔵 Diversões eletrônicas

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  Entrei naquele cenário que era a descrição mais perfeita do que sempre classifiquei como “inferninho”. A descrição é desoladora: um bando de desocupados e escravos do vício. Entregues ao álcool e ao tabaco, largavam latas vazias e bitucas ou tocos de cigarros semi consumidos. Fora outras cenas incompreensíveis, era esse o panorama encontrado no “fliperama” Colorado. Esse “inferninho” provavelmente abrigava o que havia de pior e mais desolador na sociedade oitentista. Revelando a desesperança de mais de vinte anos de governo militar, aquela juventude gastava o seu tempo e algum dinheiro num “fliperama” imundo, entretendo e esquecendo a monotonia, entre máquinas de diversões eletrônicas.  Distraindo pessoas escondidas no concreto impessoal da Grande São Paulo, restavam as companhias do Pac-man, Rally-X, Cavaleiro Negro, Shark... Prevendo que alguém que se divertia com seres pixelizados ou uma esfera doida precisavam de entorpecentes, as máquinas vinham equipadas com cinzeiros. V

🔵 Liberdade ainda que tardia

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  Logicamente, aconselho que ninguém faça algo parecido. É perigoso em vários sentidos. Entretanto, trabalhando durante o dia e estudando de noite, ducha quente, jantar no prato e cama aconchegante se tornam urgentes. Assim, cabular aula não era uma infração, mas uma necessidade. Fugir do colégio era muito desafiador, lembrando a dificuldade enfrentada por quem tentava ganhar o lado de fora da prisão de Alcatraz. O primeiro desafio era juntar e convencer um punhado de rebeldes que “não dessem pra trás”. Reunida a turma, que bem parecia ser a escória do sistema estudantil da época, era chegado o momento de despender um esforço muito maior que qualquer equação exigiria. Mas antes, uma observação: o aspecto era desanimador. Roupas mal ajambradas, cadernos e canetas insistindo em desafiar a gravidade, postura alquebrada e disposição que denunciava que não conseguiríamos chegar muito longe. Contudo, o motivo da fuga parecia nobre, apesar de estar ciente que alguns de nós, assim que gan

🔵 Máfia Ceciliana

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  Máfia Ceciliana, aquele letreiro roubava a atenção de quem passava ali. Comigo e minha namorada não foi diferente. Gostando muito do assunto, não perderia a oportunidade de furar a “Lei Seca” numa casa que fazia alusão ao crime organizado do longínquo início do século XX, mesmo que quase 80 anos depois. Entramos no recinto como se estivéssemos invadindo um território sagrado ou proibido. Melhor dizendo, como se ali fosse uma “speakeasy” (bar disfarçado para enganar a Lei Seca), e estivessem presentes alguns dos “capos” das famílias mafiosas dos Estados Unidos. Mesmo sem a indicação de alguém, puxamos as cadeiras e começamos a examinar o local. A “omertà” (código de silêncio) apenas permite contar uma pequena parte do que vimos. Pois  bem, a primeira impressão, desagradável, foi de que entrávamos de penetras no final de uma festa.  Enquanto éramos observados, reparávamos na decoração do bar temático; o que mais chamou nossa atenção, era uma, digamos, instalação artística — uma m

O terrível retrato

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  O menor dos males que a horrorosa reprodução poderia causar era o superfaturamento. Pois como a corrupção é praticamente obrigatória, a bem-intencionada suposta “homenagem” foi muito mal executada. O retrato dá calafrios em qualquer um que o encare. A sinistra moldura foi encomendada por Geraldo Alckmim. A movimentação financeira talvez seja a explicação para a curiosa homenagem. Tentando reproduzir o que somente tecnologias como a toxina botulínica (botox), o Photoshop ou um filtro de imagens conseguiriam, o artista encarnou Leonardo da Vinci e pintou um José Serra parecido com um mordomo de filme de terror. Exibindo um sorriso sinistro, nada poderia ser mais parecido com a realidade. Na verdade, parecida é a cara macabra; o sorriso é que tentou dar um aspecto mais jovial. Sem sucesso. Geraldo Alckmin, como se não demonstrasse um inconfessável péssimo gosto ao encomendar a horrenda peça, também expôs o lado mais obscuro da sua índole, aproveitando a oportunidade para exercer c