🔵 Fiscais do Sarney

 



Final do Regime Militar, início do governo, dito, democrático. Com o Plano Cruzado, o governo tentava mais uma vez derrotar a inflação. Com apenas 11 anos, eu estava no meio desse fogo cruzado.


Em termos laborais, acho que estava fadado a flertar com a ilegalidade. Nos anos 80, com o povo topando bancar um “dedo-duro” oficial ou um perseguidor (portador da chancela governamental), ser flagrado segurando uma maquininha de remarcação de preços era se tornar um alvo vivo. 


Nunca imaginei que trabalhar num mercadinho de bairro fosse algo tão temerário como ferver numa carvoaria ou me mutilar cortando cana. De repente, até então, inofensivos aposentados e donas de casa nos perseguiam como párias. Etiquetar uma mercadoria se transformou em algo pior do que roubar.


Vivendo na marginalidade, eu alternei esse período entre estudos, as brincadeiras próprias da infância e me esquivando da revolta dos consumidores assalariados. 


A hiperinflação ficou no passado, mas hoje, errado seria uma criança trabalhando. Meus pais perderiam a minha guarda por exploração infantil e, provavelmente, abandono intelectual.


Seria melhor eu ser flagrado com uma metralhadora, sendo considerado uma pobre vítima da sociedade, em vez de ser surpreendido “armado” com o equipamento aumentador de preços, sendo identificado como o inimigo número 1 do brasileiro assalariado.


Felizmente, a hiperinflação foi afastada, a máquina remarcadora voltou a ser um objeto inofensivo, entretanto o trabalho infantil proscreve automaticamente os pais ou responsáveis. Os dedos-duros de sempre afastaram os amadores “Fiscais do Sarney”, tomando o seu lugar de direito. Unf... fiscais do Sarney...

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