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Mostrando postagens de dezembro, 2022

Funcionário do Mês

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  O comediante Paulo Vieira foi incumbido de alegrar a turma da Globo. Não precisava muito, quem estava no programa do Luciano Huck, teria que gargalhar. Isso fazia parte do trabalho. Não podemos esperar outra reação dos funcionários, onde os premiados como “Melhores do Ano” são apenas funcionários da casa. É, basicamente, uma festa de fim de ano da firma. O piadista escolheu um repertório sob medida para agradar os chefes e, consequentemente, a trupe global, que, “acima da espinha dorsal ereta” (caráter), tem o instinto de sobrevivência de manter o emprego. É compreensível. Paulo Vieira atendeu a claque — que, prudentemente, ria antes do início da piada. Porém, o humor televisivo está muito fraco. Os humoristas eram provocativos, sem freios e anárquicos. No entanto, hoje eles são panfletários, autocontrolados e procuram agradar ao patrão — agradar é muito diferente de fazer rir. O humorista reuniu, como por encomenda, temas que, sem erro, agradariam: falar mal do Luciano Hang (

🔵 Cão

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  Saltitante, trotando como um puro sangue, vinha ele. Pelo negro brilhante e uma mancha branca espalhada pelo peito e as quatro perninhas compridas. Trazia uma característica respeitosa na mandíbula comprida. Merecia um nome nobre: Duque, talvez. Contudo, sua aparência inspirou, ironicamente, a abreviação do terrível pitbull. Como de costume, mas franqueando algum respeito, chamava-o de cão. Empertigado, pelagem brilhante, mandíbula proeminente, ossatura firme, porte esbelto, um legítimo Fox Paulistinha. Seria assim que o Pit se descreveria se tivesse o dom da fala; eu também exageraria descrevendo os seus atributos se ele fosse inscrito num torneio do Kennel Club. No entanto, o meu cãozinho trazia um rato morto na boca e, pelo que eu saiba, capturar roedores não garante nenhum brinde no Kennel Club.  Se passeasse com o pequeno cão, sei que não poderia fingir que éramos uma dupla muito perigosa (eu, lutador de jiu-jítsu e ele, um pitbull), por isso, só tinha coragem de levá-lo par

🔵 Ver para crer

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Malas, barracas e cinco pessoas. Tínhamos o necessário e principalmente um resquício “hippie”, com algumas décadas de atraso; algum espírito aventureiro, para encarar o acampamento silvestre; e o suficiente de comida e água para enfrentar a estrada para Minas Gerais.  Partimos, esperando encontrar uma São Thomé das Letras bucólica, cercada por montanhas, habitada por adoradores de Raul Seixas e Aleister Crowley; no entanto, o primeiro contato com a cidadezinha mística foi decepcionante: uma picape tocando algo entre sertanejo e pagode. O som alto poderia indicar que estávamos na Anhanguera, a caminho da Festa do Peão de Barretos, mas o cheiro de maconha não deixava dúvida, estávamos na trilha correta. Chegando à cidade dos discos voadores, saquei a única “droga” que eu tinha: um CD de música boliviana, comprado de um grupo de ameríndios na Praça Ramos. As canções folclóricas automaticamente nos identificava como os mais alternativos e habilitava a frequentar as melhores cachoeiras. A e

🔵 Liquidação do Mappin

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  Com a “roupa de sair” eu ía para a “cidade”. Cidade era como meus pais e avó (todos interioranos) se referiam a qualquer centro de cidade. Na zona rural (sítio) era assim. Com minha mãe, na São Paulo dos anos 80, eu embarcava num ônibus lento e barulhento. O metrô sinalizava a modernidade da cidade grande e a velocidade necessária para ver um cenário que me lembrava que era Natal. Eu já tinha decorado todo o trajeto: do ônibus, do Metrô e da estação São Bento. A escada rolante, símbolo do sedentarismo, aos poucos revelava o frenético trânsito humano da Rua São Bento. No caminho, a pé, eu seguia minha mãe, que segurava minha mão: isso me permitia olhar pra frente, pra trás, pros lados, pra baixo e, principalmente, pra cima. No Centro da capital paulista, eu via muitos edifícios que já havia visto na televisão.  Os enfeites, as marquises das lojas, o clima (em alguns pontos) e as luzes de Natal (antes da Lei Cidade Limpa) eram o mais próximo do que via em filmes e do que deve s

🔵 Bicicletas voadoras

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Aquela gangue de moleques (com uma média de 13 anos de idade) vinha tomando a Rua 13 de Maio. Como uma nuvem de gafanhotos a turminha corria e empinava as bicicletas “cross”, típicas dos anos 80.  O filme E.T. — O Extraterrestre, visto no cinema, não saía da cabeça e fazia tudo parecer possível. Como levantar voo com as “bikes” parecia impossível — coisa da mente do Steven Spielberg —, o máximo que fazíamos era dividirmos umas três garrafas de “Baré Cola”, que era o refrigerante que as esparsas moedas conseguiam servir aos ciclistas mirins, portanto, a tubaína que éramos obrigados a gostar. Impossibilitados de obter a água negra do imperialismo estadunidense, exigíamos, com desassombrada assertividade, a pobre bebida carbonatada tupiniquim. Abastecidos de alguns copos do refresco, desempilhávamos as “bikes” e partíamos “aterrorizando” o bairro guarulhense. Comportando-se como uma gangue de motociclistas malvados, os garotos seguiam “ameaçando” quem estivesse na frente e “apavorando” o

🔵 Lula lá, eu aqui

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  Naquele dia, acordei mais cedo e tomei o café da manhã. Antes de sair, peguei uma pilha de “santinhos”. No panfleto, havia um sujeito barbudo e alguns escritos, dentre eles, um em destaque: “Lula lá”. Àquela época, ainda era romântico votar no PT e achar que o Lula significava o povo no poder. Quem não foi socialista na juventude, não tinha coração; quem permanece socialista depois de adulto, não tem cérebro. Esta anedota talvez entregue que eu sempre fui frio e calculista. Não precisei receber boletos, nem DARF’s para descobrir que o Estado seria meu maior inimigo e as estatais são “elefantes brancos” que favorecem a corrupção e expõem a ineficiência do governo. Logicamente, eu ainda não havia estabelecido estes conceitos, de modo que fui convencer alguns eleitores, que assinalando na cédula o nome daquele cara, que eu mal conhecia, teríamos um País melhor. Eu não sabia, mas aquela experiência tinha o potencial de alterar o rumo da minha vida. O terreno era espinhoso, de modo q

Carreta Furacão

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  A Carreta Furacão, quando surge, parece inofensiva. Apenas parece. Trata-se de um trenzinho turístico feito para alegrar toda a família, independente da idade. Tem o aspecto inofensivo porque apresenta tudo muito colorido, uma seleção formidável de personagens (super-heróis, bichos e personagens infantis sortidos) e uma seleção incrível de canções animadas. Essa fauna de animadores alegra, mas também barbariza e “toca o terror”, por onde passa. Ao dobrar a esquina, surge o veículo encantado, espalhando alegria e “terror” nos transeuntes distraídos. Ora, quem está nos pontos de ônibus, portas de lojas ou simplesmente caminhando lentamente e cabisbaixo não espera que surgirá um Fofão, Capitão América, Homem-aranha, Goku, entre outros, completamente anárquicos. Os animadores, devidamente fantasiados, geram um humor involuntário porque são ensandecidos. Fazem rir, porque não é todo dia que vemos uma briga de mascotes. Pois é essa cena, dentre o cardápio de travessuras, que os boneco

🔵 O último jogo de futebol

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  Já não passaria mal. Antes, quase vomitei, depois das corridas entre defesa e ataque. Esse era meu retorno, após um período de algum grau de sedentarismo, ao futebol de meio de semana. Todo o vigor físico conquistado era confiscado na churrasqueira e no balcão do bar. Com a mudança de trabalho, o futebol, o churrasco e a cerveja no meio da semana tiveram que ser sacrificados. Por um lado isso era bom: não precisaria mais chegar em casa às quatro da madrugada nem acordar quebrado. Aquela vida de “atleta de um único dia” havia ficado para trás.  Domingo, novamente entregue ao sedentarismo, os amigos me chamaram para assistir à final do campeonato. Relutei, dando explicações que não pareceram convincentes. Não conseguindo aplicar uma desculpa plausível, desisti e aquiesci ao insistente convite.  Chegando na quadra, aproximei do narrador para ver o placar da partida. Não queria acreditar no que vi: o meu nome estava escrito na escalação que o narrador consultava. Tive um misto de

🔵 Mistérios da meia-noite

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  Todos concordaram com aquele desafio. Talvez alguém não concordasse com a prova besta, contudo não ousou se manifestar. Aquilo era quase um clichê: entrar no cemitério à meia-noite. No entanto, mais do que ter, era preciso demonstrar coragem. Este plano não estava incluído no rol de atividades  relacionadas a uma banda de rock. Contudo, a presença em frente à necrópole, àquele horário, instigou a triste ideia. Como ninguém arredaria o pé, perante uma plateia sedenta por localizar a covardia, todos concordaram em invadir o dormitório eterno. O arame farpado sobre o portão denunciava a frequência do local: penas de frango enroscadas. Vencendo o portão secundário, seria muito humilhante desistir do infeliz rito de passagem.  Andando lentamente e em silêncio, o objetivo óbvio era alcançar o meio do cemitério e aguardar para... não acontecer nada. A lógica indicava que o cemitério à noite era menos frequentado e mais silencioso. Qualquer som ou movimento que alterasse o esperado se

O MST volta a amolar

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  Não foi por falta de aviso. Aviso deles mesmos. O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) tem um método para realizar ataques terroristas sem ser enquadrado no crime. No entanto, Lula foi eleito, digo, “coroado” chefe do Brasil, apesar das ameaças terroristas do grupo. É muito curioso como o MST chega nos assentamentos: picapes e outros carros. João Pedro Stédile, líder do MST, já acenava com retomada de invasões, em caso vitória de Lula. Chegou a hora. Durante o governo Bolsonaro, o movimento resolveu suspender suas perfunctórias atividades, entrando, assim, numa hibernação compulsória e bastante oportuna. Com a tolerância zero tendo dissuadido o bando de tentar invadir propriedades, e a distribuição de terras ter feito o grupo terrorista perder a motivação, o MST não conseguiu conduzir uma turba enfurecida com sangue nos olhos e a faca entre os dentes. Mas com a invasão-mor do PT (Partido dos Trabalhadores) servindo de exemplo, o MST está amolando os fações e foic

Bola fora

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  Aquele sambinha no ônibus, a alegria movida a “ON e OFF” das câmeras e a “pachequice” do Galvão Bueno. A nada disso foi atribuída a eliminação do Brasil. Fatores extracampo não faltaram para explicar o fracasso da Seleção. Durante o torneio, Casagrande tratou de ser o zangado comentarista de comportamento dos jogadores, técnico, jornalistas, torcedores... Seu olhar acusador não deixou escapar: as dancinhas, os ex-jogadores na tribuna, todos os seres vivos bolsonaristas e a carne de ouro. Era óbvio que o episódio da churrascaria seria usado para explicar a eliminação da Seleção.  A peça de carne não tem nada de especial, além de custar caro, ser pulverizada com o metal precioso e ser preparada por um chef-celebridade e servida com salamaleques exagerados.  A cena dos jogadores rindo, enquanto a carne era confeccionada com ouro, só é patética. Um personagem de peso (Ronaldo Fenômeno) se destacava. Apesar de não jogar futebol, o ex-craque foi escalado para o restaurante, tendo sido a

Azar deles

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  Um povo não merece ser governado por um mandatário condenado. Ontem, Cristina Kirchner foi condenada pela Justiça. Como os argentinos têm azar! Como dar o exemplo? Os pais ensinam que é feio roubar, que isso não  compensa. Os argentinos não têm mais este argumento. Aqui no Brasil, os juízes têm plena consciência: o crime não compensa. Por isto, lamento muito: que pena dos argentinos. Governantes amigos de ditadores sul-americanos. Ditadores sul-americanos donos de uma estética caudilha terceiro-mundista. Foro de São Paulo, Grupo de Puebla, Unasul, Bolivarianismo etc. Esse pacote de besteiras faz parte do glossário do Mal e compõe  essa estética latino-americana terceiro-mundista. Todos esses mandatários parecem oferecer um ideal de sociedade tão utópico que não conseguem entregar nunca. Acabam por “quebrar alguns ovos para fazer uma omelete”. Prometem uma igualdade que, se existe, se materializa como escassez para todos. A Argentina padece na mão dessa gente. Que azar! O futeb

🔵 Vá ao teatro! Mas não me chame

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  Definitivamente, ir ao teatro não é pra mim. Talvez esse hábito exija um nível intelectual que não possuo. Entretanto, quando tento fingir que sou “antenado” e tenho um gosto cultural refinado, faço o sacrifício. Mas, ainda assim, fico com a impressão que a representação teatral não passe de uma pecinha escolar. Enfrentar uma plateia “blasé” é pior. Este tipo de público faz questão de esfregar na cara que você não deve fazer a mínima ideia do que foi assistir ali. Um pessoalzinho descolado, antenado e citando peças obscuras — dessas que nem a turminha do Metrópolis conhece. Meu amigo tinha um primo ligado com a cena mais “underground” de teatro que pode existir. Como frequentávamos as excelentes festas na Serra da Cantareira, nada mais justo que tirar uma noite de sábado para prestigiar a atuação da trupe. Teatro de Bolso, Vila Madalena e aquele público “cabeça”, que olhava para nossa cara como se nós tivéssemos errado o endereço do “stand-up comedy”. Aquela combinação toda er

Alemanha, deixe de manha

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  A seleção da Alemanha posou para uma fotografia do time, estrategicamente, tapando a boca. Legal. Algum coletivo “mimizento” deve ter achado o pseudoprotesto revelador, uma denúncia corajosa, “lacrador”, o máximo e blá-blá-blá... No entanto, quem queria ver apenas um bom jogo de futebol começou achando a coisa estranha. O alemão que torcia para ver sua “Deutschland” classificada decepcionou-se. Ajoelhar-se, negar-se a cantar o hino, esse tipo de atitude, combinada e ensaiada para ser registrada pelas câmeras, é eficaz para sinalizar virtude. Ou seja, quem toma essa atitude inócua faz uma propaganda de si mesmo; quem, mesmo sendo favorável à causa, se nega a se submeter ao gesto, é rotulado de misógino, homofóbico, intolerante etc. Antes que eu seja rotulado, devo dizer que minha crítica é só com a sinalização de virtude e, em casos mais severos, o monopólio da virtude. A Alemanha podia ser mais radical no protesto com o boicote à competição. Não enviando o escrete, demonstraria

🔵 Passarás vergonha

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  Fui à missa da igreja do bairro. Fui com a minha mãe e, sendo muito novo, me comportei bem porque ali, além de ser a casa de Deus, Ele poderia castigar-me. Eu estava sendo avaliado por minha mãe, Deus e o padre. Não adiantava olhar para os lados, os santos pareciam me encarar, às vezes com cara de acusação. Eu nunca me senti tão vigiado exposto aos olhos dessa turma. Se eu me submetesse ao escrutínio implacável desta turma, quem sabe, no Natal, isto poderia me render bons presentes. Estava montado o cenário que corroborava com o temor que Deus castigava e os olhos d’Ele estavam em todos os lugares. Seria relativamente fácil ouvir a palavra de Deus. Contudo, a dificuldade, que mantinha a preocupação fora do meu alcance, era o forte sotaque do pároco. Como não entendia o que era dito, copiei os fiéis. Num mimetismo católico, e caótico, que poderia ser confundido com demonstração precoce de fé, sentei, levantei, fiz o sinal da cruz e murmurei algumas palavras rituais. Na hora das o