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Mostrando postagens de junho, 2023

🔵 Movidos a álcool

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  Aquela fileira parecia uma horda de bárbaros pronta para o ataque. Nós bufávamos como que sedentos por sangue, ameaçávamos como cães raivosos. Dado o sinal, partimos. A poeira levantada e o barulho remetiam a memória ao que deveria ser uma batalha ou corrida sobre cavalos. No entanto, era um bando de pirralhos inofensivos que ainda iam para a escolinha pré-primário, chamavam a professora de tia, brincavam num cercadinho de areia durante o recreio e levavam uma constrangedora lancheira a tiracolo — no meu caso, com suco de laranja, pão com mortadela e, às vezes, Lanche Mirabel e Groselha Vitaminada Milani.  Do nosso ponto de vista, tudo ganhava proporções grandiosas e pretensamente importantes. Para os adultos, éramos apenas um bando de pivetes colorindo casinhas, animaizinhos etc. Contudo, não nos importando com os outros, víamos fardas camufladas em vez do tênis Conga, bonezinho com fivela e uniformezinho azul; e um alforge de guerra em vez da ridícula lancheirinha a tiracolo.

Mãozinha pro alto

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  Nesse ritmo, Chris Martin (Coldpllay)  logo estará tocando ‘Trem Bala’ no ‘Teleton’ ou cantando no encerramento do ‘Criança Esperança’. Com discursos enfadonhos, Chris se iguala a Leonardo DiCaprio ou Mark Ruffalo tuitando para “salvar a Amazônia”. Não se sabe se é megalomania, tédio da vida pós-sucesso ou coisa de assessoria oportunista, mas o destino é conhecido: cacique Raoni no palco, Santo Daime e perda de relevância musical. Musicalmente indiscutíveis, Sting, Bono Vox e Roger Waters caíram nas armadilhas do sucesso e decidiram ir até ali e mudar o mundo. Se bem que o assessor surge com uma frase de efeito a ser entoada como um mantra. Afinal, esse populismo pop sempre funciona. Ou não. Às vezes, quem grita “We don’t need no education” não aceita doutrinação. Esses músicos consideram contar com uma massa, bestificada como zumbis, sem opinião própria e agem como líderes messiânicos, conduzindo o povo a uma terra prometida (salvação), que só eles sabem o caminho, bem como ond

🔵 Comendo que nem um cavalo

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  Já aviso que eu não sou um fã do cantor sertanejo, embora reconheço que ele está anos-luz  à frente desse sertanejo universitário de balada, ao menos em autenticidade. Por acaso, cheguei no restaurante e churrascaria ‘Tião Carreiro’. O preço era bom e a comida era bem fornida, portanto resolvi arriscar o estômago no lugar com nome de restaurante de beira de estrada. O aspecto lembrava o que deveria ser a rodovia Cuiabá-Santarém. Então, o lugar destoava de tudo o que eu suspeitava encontrar no centro de São Paulo. Confesso que o meu visual era bem discreto, mas não tinha nada a ver com o panorama, digamos, rústico da frequência do ‘Tião Carreiro’. Pensei em dar meia-volta quando me senti um forasteiro adentrando um “saloon” no Velho Oeste. Porém, àquela altura, seria pior recuar e, afinal, eu não estava no século XIX nem no Oeste Selvagem. Me servi, achando que seria questão de tempo até me indicarem o caminho do ‘McDonald’s’ mais próximo. Contudo, fiz pose e cara de bruto e espe

Pindorama: o reino da Borboleta Azul

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  A maior contribuição da Carreta Furacão (Lula e sua turma) chama-se Flávio Dino. A criatura com nome jurássico trouxe humor involuntário ao debate político. Involuntário porque ele não quer ser engraçado, mas como se leva a sério, acaba sendo cômico. Esta semana, um “Zé Graça” da internet publicou uma performance de um (ou uma) “drag queen” fantasiado (ou fantasiada) de Borboleta Azul. Isso viralizou na internet. A Agência Lupa correu para avisar que aquilo não era o Flávio Dino. Provavelmente, ninguém achou que a (o) “drag queen” era o ministro.  “O meme passa por baixo da porta, enquanto a notícia ainda está tocando a campainha”. Ignorando que o meme é uma piada, a Agência Lupa correu para atestar a veracidade de algo que é propositalmente uma caricatura. Assim, a Agência Lupa novamente vira piada, cai em descrédito e mostra-se militante. Dino não precisaria se esforçar para ser ofendido. No entanto, ele parece fazer questão de se “vender” autoritário. Sua presença já é gros

Falando para passarinhos

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  A “live” do Lula é um fracasso. Mesmo com toda a produção, mesmo contando com um entrevistador camarada (Marcos Uchôa), não deu certo. Como é visível, diferentemente dos seus colegas jornalistas, o ex-global perdeu a credibilidade e se desgasta ao lado de um mandatário ilegítimo. Nicolás Maduro, confiando demais no endeusamento de Chávez, retratou como seu antecessor apareceu na forma de um passarinho. O simples pensamento gera uma imagem mental soviética do inventivo acontecimento. A descrição do evento bolivariano, foi lançada com o prognóstico de que seja um evento histórico: o dia que Cháves surgiu na forma de uma ave e aconselhou Maduro. Como Che Guevara mirando um futuro utópico, camisetas exibirão a estampa da ave assobiando na orelha do ditador venezuelano. Lula não deixou de citar seu maior adversário político e talvez da vida, Bolsonaro. Mas, invocando uma mensagem subliminar, o pretenso ditador brasileiro exaltou a presença dos assobios irracionais. Pior, denunciou a

🔵 Um gato na estante

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  Quando frequentei a biblioteca circulante Mário de Andrade, em São Paulo, li muito, porém algo me intrigava. Circulando pelos corredores, entre estantes e livros, eu fui surpreendido por um gato. Coincidentemente li que gatos eram usados para acalmar ambientes. De fato, aquilo estava funcionando. Entretanto, aquele animal não poderia ser utilizado como um objeto para harmonizar cômodos, como um sachê que a gente compra no supermercado. Entretanto, fiquei mais tranquilo ao constatar que o felino gostava da biblioteca instalada em um casarão histórico. Realmente, o silêncio era respeitado, e eu não havia presenciado maus-tratos animais. Não, a única coisa que interrompia minhas tardes e atormentava demais, era que o gato parecia me perseguir. Isso dificultava minha escolha. Entre Machado de Assis e Marcelo Rubens Paiva, lá estava o bicho. Inclusive quando eu arriscava puxar um Paulo Coelho, lá estava o “zoião” esbugalhado do gato. Aquele bichano não estava completamente entregue a

MGLU3

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  “Vou-me embora pra Pasárgada, lá sou amigo do rei”. Luiza Trajano não foi para Pasárgada, como no poema de Manuel Bandeira, entretanto a dona do Magazine Luiza é amiga do “rei”, como no poema de Manuel Bandeira. Luiza foi convidada a integrar um inútil conselho. Ela, lógico, aceitou. Talvez não seja essa a intenção, mas é uma excelente oportunidade de estabelecer um contato direto com o Poder Executivo e salvar a sua rede de lojas, que passa por sérias dificuldades. Com seu faro comercial, ela não perderia essa chance de se tornar uma “insider trader” oficial, obtendo informações econômicas privilegiadas. Porém, mais que aproveitar prováveis manobras, a lobista de si mesma, Luiza, arrisca palpites para o economista Roberto Campos Neto, presidente do Banco Central. Sei... A empresária disse pro neto do icônico economista Roberto Campos baixar os juros... na canetada. Brilhante! Ela e o Lula deram essa dica para um economista. Sei... Minha intuição diz, ela não está nem aí para a

Vai que cola

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  Recentemente, houve uma debandada da Rede Globo. Quando deixou de ser loucura se demitir da Globo, os ex-funcionários demonstraram um alívio pessoal e uma liberdade destituída de demonstração forçada de “compliance” ou “lacração” para ficar bem na foto". Entretanto, dificuldades financeiras fizeram a emissora carioca recrudescer o ritmo das demissões, mas muitos ex-globais descobriram como pode ser boa a vida profissional pós-Globo. No entanto, um repórter vem deixando sua credibilidade escorrer a cada aparição. Marcos Uchôa tinha muita credibilidade como repórter. Cobrindo guerras ou esportes, toda vez que aparecia no vídeo, “emprestava” uma aparente confiança e praticamente “carimbava” a matéria como algo que podia ser acreditado sem contestação. Essa constatação é baseada, lógico, na competência e profissionalismo. Sim, isso tudo é muito subjetivo, porém creio que também seja senso comum. No entanto, esse capital profissional é muito difícil ser adquirido, mas fácil e rápido

🔵 Rio abaixo

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  A barraca, solitária no Camping Jacaré, provavelmente servia de ponto de referência. Fomos a Brotas, interior de São Paulo, para, diferentemente de descer as cataratas num barril, descer o rio Jacaré Pepira num bote. Apesar da confraternização animada com cerveja e violão, o clima naquele restaurante era sombrio. O céu noturno prometia que a chuva não cessaria, dando mais volume à correnteza e empregando mais adrenalina à nossa expedição ou novamente cancelando o “passeio”. No dia anterior, a chuva havia frustrado o “rafting”. A caudalosidade do rio rendeu uma pequena reunião. Eu e meu amigo, desconhecendo o perigo e talvez encorajados por “shots” da pinga com mel  brotense,  decidimos “navegar” o rio. Porém, a negativa geral, inclusive dos profissionais, nos trouxe à realidade. Fomos votos vencidos pela prudência. A chuva deu uma trégua, entretanto o volume d’água classificava o nível de dificuldade “5”. A seriedade com que isso foi dito, me fez cair na real e acreditar que o

É essa a juventude que quer tomar o poder? — Falta de maturidade

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  Há muito tempo, assisti a um vídeo sensacional. Sensacional significa que causa sensações, nesse caso: vergonha alheia. Juventude costumava ser quase um sinônimo de contestação, repúdio a toda forma de poder. No entanto, o que se vê aqui é praticamente um flagrante da burrice explícita. O conteúdo é minuciosamente feito para confrontar os conservadores, entretanto diverte justamente aqueles que seriam o alvo. Chegará algo que cessará o ritmo da dança e tirará a graça de cantar essa musiquinha ridícula: o boleto. O grupinho executa uma dancinha constrangedora e a música, uma letra inacreditável. A estética da maioria condiz com o contexto. E, com uma rápida olhada, é fácil perceber que uns dois ali estão cursando a faculdade há uns dez anos. Porém, é claro que alguns “peixes fora d’água” foram “obrigados” a pagar uma modalidade lamentável de “pedágio ideológico”, sob pena de não fazer parte da turma, embora não integrar esse bando garantiria um ganho duplo. Tenho certeza que muit

🔵 Estive em Peruíbe, lembrei-me de você

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Não precisei voar para o Japão nem para o Oriente Médio; não tive que vender um rim nem qualquer órgão ou objeto valioso. Bastou achar um estacionamento grátis, no estádio do Morumbi para assistir ao jogo do Corinthians contra o Real Madri, da Espanha, pelo campeonato Mundial de Clubes da FIFA 2000. Me chamaram para assistir à final contra o Vasco da Gama, no Maracanã. Mas eu preferi ir à praia, em Peruíbe, São Paulo. Cheguei em cima da hora. A família corintiana, um são-paulino e um santista. A disputa nos pênaltis ajudou a “pilhar” o clima de decisão. Meu tio, como tradição, foi caminhar para “não sofrer” a cada cobrança. O “não sofrer” (entre aspas) significa que é impossível não sofrer com qualquer disputa, em qualquer lugar, envolvendo o nome do Corinthians. Então, esse hábito não tem escapatória: cada grito e cada estrondo de rojão tem um “DNA” ou a “impressão digital” alvinegra. Vencido o jogo e o primeiro Mundial de Clubes da FIFA, mantivemos um irresponsável costume, saímos pe

🔵 Jornal da Vila Galvão

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  O jornalzinho da Vila Galvão era uma publicação simpática aos moradores do bairro, porém o nefasto intuito era eleger seu dono, o eterno vereador. Para mim, era a oportunidade de parar numa padaria ou boteco para comer alguma coisa, ganhar alguns trocados, dois sanduíches de presunto e queijo e uma lata de guaraná.  Para realizar essa troca justa, era só eu fornecer a minha incipiente força de trabalho, arremessando exemplares nas casas, prendendo nos para-brisas dos carros e entregando aos transeuntes. Assim, a população ficava informada das fofocas, dos óbitos e do mundo das subcelebridades locais; o vereador impulsionava sua candidatura; e eu mudava meus hábitos alimentares no recreio escolar, pois eu sabia que seria promovido da fila da sopa para a cantina. Saímos para divulgar as inutilidades da nossa aldeia com os ameaçadores capangas do candidato. Sim, o postulante à vereança de Guarulhos, além de dono do jornalzinho, era um tipo de chefe da máfia local. Pois bem, com u

🔵 Iron Maiden

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Acostumado a assistir a shows na pista, querendo economizar algumas notas, quase transformei meu derradeiro show de rock em estádio numa experiência estranha. Para quem só aceitava assistir a shows na pista, ficar plantado na arquibancada era algo comparável a ver Charles Aznavour, Dione Warwick ou Manolo Otero no Palace, atrás de uma coluna. Felizmente o Iron Maiden cumpriu o combinado e entregou o prometido. Os shows do Iron são milimetricamente calculados e executados, portanto a emoção é quase a mesma para quem vê na frente do palco ou nas cadeiras. Resumindo: é perfeito como num videoclipe. O “setlist” (músicas tocadas) é construído para agradar a maioria dos fãs. Pois bem, a apresentação foi no antigo Parque Antártica (Estádio do Palmeiras). Além de eu ser corintiano e me sentir infiltrado no território inimigo, havia algo estranho na movimentação típica de um show de rock. Onde estavam os altamente embriagados, que deveriam ser facilmente encontrados caídos pelas calçadas? E as

🔵 Aniversário fora de época

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  Com alguma ansiedade, mal disfarçada de pressa, já que a faculdade ficava deserta à tarde, mais uma vez eu girava a roleta, descia as várias escadas e percorria corredores até chegar à biblioteca. Bastava entregar a carteirinha e acessar um computador. Todo o procedimento fazia com que eu fosse confundido com um aluno da faculdade e, de certo modo, me comportava para contribuir com a verossimilhança. Eu podia acessar a internet gratuitamente, estudar e conferir os resultados do concurso público. Entretanto, um detalhe sem importância me distraia. Embora meses distanciavam a data do meu aniversario, a tela exibia a data errada: 4 de janeiro (meu aniversário). Troquei de micro, a mesma coisa. Estiquei o olho em outros computadores ocupados: 4 de janeiro. Eu estava propenso a acreditar em algo transcendental, mas não naquele momento. Depois de esgotadas as possibilidades de coincidência e sincronicidade, achei que aquele caso era falta de manutenção. Como o resultado do concurso  n

Dito Cujo, o ditador moderno

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  Maduro visitou Lula. Esse papo de reunião bilateral é o que se espera de uma dupla de presidentes. No entanto, a reunião se trata de um plano, que não é de interesse de todos. Para avaliar o nível de despotismo desse encontro, o brasileiro deu dicas de como empurrar uma narrativa. Lembrando que “narrativa” é um modo de recontar a história como convém. No caso, segundo Lula, Maduro tem que esconder a ditadura que existe na Venezuela. Vou desfilar parte da mentira lulista que foi aplicada como narrativa: em vídeo no Youtube, Lula dá um tutorial de como mentir pelo mundo; e num clássico da cara de pau, Lula se elegeu aplicando um golpe, que eu chamo de “Conto da Picanha”. Eu poderia citar muitos exemplos, mas o charlatanismo, que para mim é evidente, seduz todas as classes sociais e níveis escolares. Isso desanima. Um jornalista da GloboNews, enroscando a fala, conseguiu soltar um: “ditadura moderna”. Tá, a visita do ditador causou um constrangimento generalizado nos jornalistas