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Mostrando postagens de maio, 2023

🔵 Vendo os anos passarem

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  Estávamos no Lago, a cerveja esquentando na latinha, o assunto reticente, monossilábico e escasso, bem como o olhar perdido num horizonte imaginário empregavam drama àquela falta de perspectiva. Esse desânimo não era nada mais que cansaço da festa no apartamento de uma colega de escola. Apesar do real motivo da cena melancólica, a imagem mental dos amigos incertos quanto ao futuro gera uma narrativa poética. Junto à Matemática, Física, Química e Biologia, eu passei incólume ao cigarro (Derby e Lark) e ao Truco. O final do colegial me habilitava para uma incerta faculdade, e o salário baixo possibilitava que trocasse minha latinha de cerveja. Isso não significava algo digno de ser comemorado, mas eu anunciei a “saideira” com certo orgulho. Talvez, esse comportamento refletisse o sentimento próprio de quem já vinha há muito tempo curtindo a vida, não como a maioria que elege um acontecimento para iniciar alguma coisa. Aquela palhaçada, digo, a cena do Lago era um “remake” mal-exec

Luzes, câmera, ação

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  Eu já vi excelentes cliques retratando vândalos no exato momento de um pontapé numa porta de vidro. Curiosa a raridade de ver uma foto da cachoeira de estilhaços. Habilidade e isenção política são requisitos basilares para um fotojornalista bom e honesto. Entretanto, o fotógrafo petista da agência internacional ‘Reuters’, segundo as imagens “vazadas”, cria depredações. Com alguma atenção, ele colheria flagras reais. No entanto, o que nós flagramos foi um fotógrafo que dirige, ensaia e “flagra” o “black bloc” disfarçado de bolsonarista. Logo após a cena “violenta”, um momento singelo, mostrando que o amor venceu, fotógrafo e golpista conferem a imagem e se cumprimentam. Ora, não era isso o que eu esperava. Pelo contrário, o resultado: nenhum estilhaço, nenhuma gota de sangue e muita confraternização. Só que a narrativa no exterior é a da fotografia. Produzir um flagra de quebradeira como na técnica do repórter fotográfico da ‘Reuters’ fazem eu me arrepender de não ter forjado chu

🔵 Era uma vez na Vila Galvão

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  Fazia algum tempo. Já nos primeiros dias, eu não via motivo para estudar aquele monte de matérias que, eu tinha certeza, não me serviriam. Educação Física era a única disciplina que me entusiasmava, desde que a “aula” fosse de futebol. Mas aquele dia apresentaria o motivo para eu nunca mais “cabular” aula. Mais que isso, sentar na frente, perto da professora, era uma possibilidade. Mais ainda, com apenas 11 anos de idade, eu realmente pensei em completar o ginasial. Ela entrou na sala como quem levitava. Não precisei largar livro, caderno, lápis e borracha porque eu não os utilizava. A partir daí, iniciou-se uma nova gincana: a corrida para conhecer aquela menina e conquistar algo como o telefone ou o endereço dela. No sábado cedo, fui ao endereço guardado como um troféu. Entretanto, quando virei a esquina, tive uma visão que revelava que meus adversários se acumulavam além das partidas de futebol. Não sabia por que meus amigos, no máximo adversários dentro da quadra esportiva

🔵 Por um mundo melhor

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  Uma excelente notícia: fim da última aula, sexta-feira. Mas, para estragar, uma péssima informação: trabalho de Geografia, o apocalíptico efeito estufa. Por outro lado, era bom: eu teria uma justificativa nobre para ir de ônibus para o centro da cidade. A obrigação escolar foi responsável por um dos piores ajuntamentos para pormenorizar os horrores do terrível efeito estufa. Pois, fomos à biblioteca municipal resolver mais um problema do Meio Ambiente. Era muita responsabilidade para um grupinho de medíocres estudantes da 5ª série C com apenas 11 anos. Entretanto, como se tratava de um desastre natural que tinha o poder de dizimar o mundo, alguém tinha que fazer algo.  Uma matéria da revista Veja e alguns fragmentos de livros foram suficientes para considerar o trabalho concluído. Suspeito que todos os grupos copiaram os mesmos trechos. Nem sequer a capa escapou da falta de originalidade com o título: “Trabalho de Geografia”. O único arroubo artístico foi o desenho da capa: o n

Garçom, aqui nesta mesa de bar...

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  Muita gente vem se decepcionando com o Lula. É meio tarde. É como se arrepender de ser r de um estelionato depois da consumação do golpe. Paciência. Entretanto, restava o mito de um Lula “Mandela”. Mas o que vimos na reunião do G7, no Japão, estava longe do presidente líder mundial. Pelo contrário, o petista se mostrou tímido, deslocado e ignorado. Diferentemente do bravateiro da campanha, que agiu livremente aqui, onde dispõe de um canavial de incautos cativos prontos a segui-lo, “O Chefe” perdeu a oportunidade de acabar com a guerra da Rússia/Ucrânia. Quando o ex-presidiário viu o presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, deve ter sentido falta de uma mesinha e duas cadeiras de armar de ferro, bem como, dois copos americanos e uma cerveja gelada. Sentindo falta do ambiente de bar, “o cara” se viu impossibilitado de suspender o conflito. Dessa vez, o mundo não se tornou um lugar melhor por um detalhe. O presidente de honra do PT (Partido dos Trabalhadores) foi arrogante e simp

Efeito Streisand

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  Muita gente deve ter ouvido falar do humorista Léo Lins. Ele já tinha ganhado notoriedade tendo seu espetáculo proibido por algumas prefeituras. Porém, a proibição ganhou outra proporção: a repercussão agora é nacional. Essa proibição que se torna propaganda gratuita chama-se “Streisand Effect”. Referindo-se à cantora Barbra Streisand, quando tentou esconder judicialmente a divulgação da fotografia de sua mansão, gerou o efeito contrário. Pois, Léo Lins, depois da medida judicial, virou debate nacional, unificou espectros políticos diversos e foi “premiado” com mídia gratuita. É bem possível que suas apresentações sejam muito mais concorridas.  Léo Lins expõe a nata do humor negro. Para a turma do politicamente correto, o próprio gênero de humor já vem eivado de racismo — sei lá — estrutural. O humorista brinca com todas as “minorias”. Detalhe: apenas será atingido pelas piadas, quem for ao show; entretanto, quem vai ao show, é imune ao potencial ofensivo de... palavras. A luta,

🔵 That 70s show

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  Aquele show era uma farsa, começando pelo nome da turnê: “Fithy Lucre” (lucro sujo). Assim, fomos assistir a uma banda de punk rock uns 20 anos após o movimento jovem.  Queríamos emular a rebeldia dos operários britânicos nos anos 90, embalados numa música caótica, no ritmo de uma dança autodestrutiva. Não vivíamos numa soturna cidade inglesa como Manchester e não éramos súditos da rainha. É lógico, toda essa fraude nunca poderia dar certo. Mesmo assim, nós cinco fomos brincar de rebelde sem causa. O Estádio do Ibirapuera ainda lembrava o Parque da Mônica, devido o clima de convescote. Mas era muito cedo, e o show do Sex Pistols atraía uma geração que foi jovem nos anos 70. Superado o choque de gerações e o impacto do movimento punk estar anacrônico, fomos andar pelo estádio. A fileira de banheiros químicos sugeria uma gincana na qual torcíamos para não abrir a porta de um “box” com estado de onde foi cenário de um exorcismo escatológico. Cerveja quente e cachorro-quente miser

Agrixô

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  Não satisfeito em invadir propriedades rurais, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) resolveu invadir o setor. O governo, provavelmente com a “faca (ou foice) no pescoço, assumiu a briga dos invasores. Foi obrigado a comprar uma briga que vai lhe custar muito caro. Isso que dá querer agradar dois lados (agronegócio e invasores de terras) de uma briga, vez ou outra veste um boné do MST, outro com a sigla CPX... “Quando cê vai vê, tá acendendo vela pro cão”. Anos atrás, um quadro do programa Pânico constrangia subcelebridades a segurar uma peça do fictício “Presunto Garcia”. Na feira do MST, fizeram o mesmo com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Confeccionaram um “banner” com o ministro segurando um pacote de fubá. Com uma cara de galã de quermesse e indicando que o produto é confiável. Sem saída, Haddad foi constrangido a bancar o garoto-propaganda, segurando o “Presunto Garcia” do MST. É difícil escolher o que foi pior: a ideia ou o resultado? A presença do ex-gov

🔵 Vandalismo socialmente permitido

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Um pouco de cerveja é o suficiente para transformar uma turma de amigos numa perigosa gangue urbana. Andando pelas ruas da cidade, meio sem destino, ou melhor, à procura de um bar aberto. Esta era a desculpa para descontarmos a raiva juvenil sem causa. Entretanto, o mobiliário urbano exibia uma novidade que atrapalhava a nossa circulação. Alguém mal pago exerceu um subemprego proibido: “decorou” os postes com propaganda burguesa irregular. Nunca surgiu uma oportunidade tão atrativa para destruir um patrimônio, fingindo lutar contra o capitalismo. Aquelas placas estavam fixas nos postes, com arame. Parei para ler o anúncio: lançamento... empreendimento imobiliário... apartamento amplo... 2 e 3 dormitórios... Aquela oferta me ofendia, pois eu não poderia adquirir aquele imóvel do anúncio. Um súbito espírito socialista surgiu, a burguesia feriu o meu orgulho proletário e despertou uma inédita sede de justiça social. Vendo que meus comparsas compartilhavam da sanha exterminadora, com sangu

É apenas um rolezinho

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  Em 2014, os rolezinhos “chegaram chegando”. O que parecia um bando de moleques a fim de dar uns beijos, ficar muito louco e zoar virou palco para especialistas de gabinete, sociólogos de boteco e “flanelinhas de minorias”. Com teses estapafúrdias, querendo dar uma roupagem de discriminação social à reação ao fenômeno, esses picaretas encontraram uma oportunidade de encaixar explicações pré-fabricadas. Eu já saí com uma turma com potencial para transformar o Shopping Center Norte numa área que não seria considerada de lazer; mas o freio social amenizou o ímpeto infanto-juvenil da turminha que circulava livre dos olhos dos pais. O máximo de rebeldia era jogar fliperama. Fora isso, o roteiro era: ‘McDonald’s’, cinema e sorvete. Reconheço que o “script” era quadradinho, quase pequeno-burguês, mas era isso que era entendido por passear no shopping. Apesar de pobre, nenhum teórico classificou o “rolê” como discriminação social, ocupação de templo de consumo, ou falta de ambiente de la

🔵 A revolução dos bichanos

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  Tocamos a campainha do apartamento. Quando a porta abriu, fomos recebidos por um gato que, sinuosamente, contornou a porta, o batente e fugiu, ansioso. Entrando no apartamento, o cenário chamou a atenção: uns 20 gatos. Mesa, estante, sofá, chão etc. O imóvel estava tomado pelos felinos. Tive a oportunidade de conhecer a personalidade de um exemplar, portanto, tenho certeza, os animais autorizara aquele cara,  que se dizia proprietário, a morar com a turminha. O amigo do amigo, que habitava o apartamento, devia estar acostumado com o cheiro, porém nós não. O cheiro era mortificante, então, foi um convite a fugir dali como se o prédio estivesse em chamas. Aquele movimento, o cheiro e os miados roubavam minha atenção. Inclusive, bem sei, se o IBAMA “estourasse” o imóvel, os gatos seriam recolhidos e todos nós sairíamos presos. Entretanto, o pior não aconteceu, portanto bastou suportar aquilo. Os minutos pareciam horas, os segundos pareciam minutos, e a conversa estava animada.

A festinha do Charles

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  A ‘Google’, desavisada,  entrou numa “bola dividida” com o governo brasileiro. Perdeu. Perdeu, mas está do lado certo. Lógico, tudo por motivos financeiros. Em retaliação ao governo brasileiro, a ‘Google’ usou sua mais eficiente arma: a busca.  Quando se digitava “Lula coroação”, a ferramenta sugeria “Lula corrupção” e “Bolsonaro coroação”, o buscador sugeria “Bolsonaro coração”. Para quem entendeu o “jogo”, foi até engraçado. Lula e corrupção são quase sinônimos, mas, definitivamente, Bolsonaro não combina com coração. A situação só ficou hilária quando os lulistas, bovinamente, começaram a reclamar. É para isso que a gente paga a internet! Enquanto isso, a primeira-dama, de companhia do Lula, foi ver a coroação do coroa rei Charles III. Seu horizonte cultural torna o evento tão relevante quanto assistir ao Big Brother. Não deixa de ser mais um passeio no “Tempos de Cinderela”. No estilo “matou a família e foi ao cinema”, a duplinha “Bonnie & Clyde” está, segundo noticias, na Eu

Dani para os íntimos

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  Ah, Daniela Lima, nossa Luciana Gimenez do Jornalismo. A apresentadora da CNN Brasil promete Jornalismo, mas entrega entretenimento. O que vem disfarçado de notícia séria chega, à família brasileira, como um divertimento, ainda que involuntário. A moça chama a atenção pelo desempenho constrangedor, o que garante muita diversão. Esquecendo-se que estava ao vivo, excitada pela proposta de censura do PL 2630, nossa heroina engatou uma sincera conversa de boteco com o relator do Projeto de Lei, deputado Orlando Silva (PCdoB-SP).  Transcrição: – (...) a gente vai conferir as cenas dos próximos capítulos com um dos protagonistas dessa história, o relator do PL das Fake News, o deputado Orlando Silva tá aqui com a gente — apresentação. — Finalmente, hein, cara! Telefone tu não atende. É uma tragédia de fonte, pior fonte do mundo. Telefone não deu tempo de atender. Eu sei que tá trabalhando, mas... assim... precisa chorar, né, aqui,  pra ver se você fica com peso na consciência. Tud

🔵 Barata voa

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  Era só uma barata voadora, mas eu lutei como se fosse um falcão selvagem. A barata alada nunca pode ser menosprezada. Se eu poupasse a vida do ser rastejante e apagasse a luz, certamente ela seria atraída pelo cheiro de sopa de cebola no canto da minha boca. Sendo voadora, a barata teria fácil acesso à cama de cima do beliche. Eu, por questão de honra, precisava enfrentar aquele horror paralisante, digo, inseto repulsivo. No topo do guarda-roupa, a coleóptera, percebendo o meu medo, digo, repugnância, parecia  me  observar. Suas antenas, com um leve movimento, explorando o espaço aéreo deveria estar farejando o meu pavor, digo, nojo. O inseto asqueroso armou seu voo. A aerodinâmica do animal não favorecia o direcionamento aéreo. Entretanto, o bicho se lançou de cima do guarda-roupa e quando parecia que a gravidade me protegeria, ele aprumou-se e veio na direção do meu rosto. O ruído das asas batendo aumentava a dramaticidade do ataque. Diante da ameaça de uma barata voadora, meu

🔵 O ancião japonês

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  O imóvel era um completo mistério. Certamente, aquele amontoado de móveis só podia ser um comércio. Um comércio de móveis, era isso que eu precisava. No entanto, aquilo parecia um cômodo da casa de um acumulador compulsivo. A disposição de cadeiras, estantes, camas etc era impressionante. Precisando de uma estante boa e barata, arrisquei entrar naquele lugar misterioso. Eu parecia ser o único cliente em anos, de modo que ninguém apareceu para me atender. Insisti, fazendo barulho para que eu fosse notado. Contudo, não obtive resposta. A quantidade de móveis amontoados dificultavam minha procura por algum atendente e, sinceramente, davam a impressão de que eu estava sozinho. Todo o cenário e a situação começavam a dar medo. Com uma aproximação cautelosa, cheguei ao fundo da lojinha. Quando algo se moveu, tive um misto de susto e alívio. Um ancião japonês (com uns 80 anos) saiu do  que parecia um estado meditativo. Escondido entre os produtos de madeira, aquele senhor parecia fazer part

A capivara soberba Filó

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Sábado, 29, fui surpreendido com algo que parecia mais importante que a PL 2630, que as CPIs, que os pedidos de impeachment etc: o caso da capivara Filó. Não tenho expertise para opinar em nenhum caso, muito menos em questões ambientais. A Luisa Mell e o IBAMA já se deram muito mal, portanto eu não vou me arriscar. Esse exemplar do mamífero foi adotado pelo ribeirinho Agenor. A partir daí, a vida do simpático bichinho, que ganhou o nome de Filó, mudou: Filó nadava com seu melhor amigo, Agenor; Filó era vestida; se alimentava na mamadeira; era acariciada; etc. O bicho não demonstrava reação alguma, entretanto os inúmeros seguidores interpretaram sua fisionomia irônica como algo positivo. Agenor Tupinambá é influenciador digital. Agora ele é um “influencer” com uma capivara de estimação. Isso rende audiência. Isso rende cliques. Isso rende dinheiro. Isso rende “atenções”. Isso rende sanções. Tudo isso rende repercussão. Tudo isso desemboca na imprensa. Filó era uma estrela involuntária d