🔵 Vendo os anos passarem
Estávamos no Lago, a cerveja esquentando na latinha, o assunto reticente, monossilábico e escasso, bem como o olhar perdido num horizonte imaginário empregavam drama àquela falta de perspectiva. Esse desânimo não era nada mais que cansaço da festa no apartamento de uma colega de escola. Apesar do real motivo da cena melancólica, a imagem mental dos amigos incertos quanto ao futuro gera uma narrativa poética. Junto à Matemática, Física, Química e Biologia, eu passei incólume ao cigarro (Derby e Lark) e ao Truco. O final do colegial me habilitava para uma incerta faculdade, e o salário baixo possibilitava que trocasse minha latinha de cerveja. Isso não significava algo digno de ser comemorado, mas eu anunciei a “saideira” com certo orgulho. Talvez, esse comportamento refletisse o sentimento próprio de quem já vinha há muito tempo curtindo a vida, não como a maioria que elege um acontecimento para iniciar alguma coisa. Aquela palhaçada, digo, a cena do Lago era um “remake” mal-exec