É apenas um rolezinho

 



Em 2014, os rolezinhos “chegaram chegando”. O que parecia um bando de moleques a fim de dar uns beijos, ficar muito louco e zoar virou palco para especialistas de gabinete, sociólogos de boteco e “flanelinhas de minorias”. Com teses estapafúrdias, querendo dar uma roupagem de discriminação social à reação ao fenômeno, esses picaretas encontraram uma oportunidade de encaixar explicações pré-fabricadas.


Eu já saí com uma turma com potencial para transformar o Shopping Center Norte numa área que não seria considerada de lazer; mas o freio social amenizou o ímpeto infanto-juvenil da turminha que circulava livre dos olhos dos pais. O máximo de rebeldia era jogar fliperama. Fora isso, o roteiro era: ‘McDonald’s’, cinema e sorvete. Reconheço que o “script” era quadradinho, quase pequeno-burguês, mas era isso que era entendido por passear no shopping.


Apesar de pobre, nenhum teórico classificou o “rolê” como discriminação social, ocupação de templo de consumo, ou falta de ambiente de lazer na periferia. Meu passeio não mereceu o “status” de movimento social, talvez por falta de barulho, algum objeto quebrado ou alguém ferido. Provavelmente, minha adolescência foi na época errada ou nada era problematizado e um rolê era apenas... um rolê.


Os jornalistas, especialistas, antropólogos, sociólogos ou pesquisadores devem guardar essas rebuscadas construções semânticas que, como coringas, justificam banalidades.  Expressão de conquista de espaço, modelo de inclusão social, nova classe média, demonstração de desigualdade e elitismo da sociedade brasileira, triunfo de um capitalismo deslumbrado, manifestações de uma cidadania insurgente, não adequação do local para essas reuniões e blá, blá, blá.

 

Raizes na luta pelo espaço urbano, diz pesquisador. Embora essa frase não tenha quase nenhum sentido, e o pesquisador deva ser um teórico pirado ou um pensador chapado, eu sou fã desse cara. Se essa figura não existisse, também não teria parido essa ideia criativa. Sensacional.


As propostas de mudanças não ficaram de fora. Segundo os “especialistas” de sempre, a sociedade tem que se adaptar a fenômenos adolescentes. Mas é fácil alterar as teses de gabinete: basta ameaçar montar uma feira livre, promover um pancadão ou submeter a porta da casa desses teóricos a esses “fenômenos sociais”.


Recentemente, Chicago, EUA, experimentou uma versão mais violenta de rolezinho. Dessa vez, os intelectuais não conseguiram romantizar o evento, portanto não “venderam” suas teorias e se calaram.




“Os pobres colhem o que os intelectuais semeiam”

(Thomas Sowell)



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