Navegar é preciso, viver não é preciso 🔵


Litoral de Santa Catarina, estava tudo ótimo, mas alguém teve a ideia de mergulhar, afinal havia placas de agências convidando para o passeio. Por que não?

Antes, uma aula e algumas perguntas. As questões eram do nível: O que acontece se eu parar de respirar? Todavia, eu completei o questionário como se fosse uma prova da Fuvest. Eu acredito que todos encaravam aquelas folhas como uma competição, afinal estavam todos concentrados naquelas perguntas tolas. 

No dia seguinte, partimos para a inédita aventura. Entramos num barco que parecia aguentar ida e volta sem afundar. Chegamos no local, uma ilha bonita, água cristalina e, no barco, um bando de turistas que mal sabiam a diferença entre uma galinha para um tubarão. Mas eu também era neófito na exploração do fundo do mar. Além disso, eu conhecia razoável variedade de peixes por fotos, aquários e bancas de pescados.

O mergulho, propriamente dito, foi de, no máximo, seis metros de profundidade. Mas tudo correu bem e pude ver alguns cardumes, tartarugas e outras criaturas, dignas do Discovery Channel. Quanto mais eu submergia, mais vinha à tona minha hipocrisia, achando exuberante toda aquela fauna marinha em seu habitat natural. À noite, no restaurante, me referindo àquelas maravilhas marinhas pelo eufemismo “frutos do mar”, eu acharia muito mais lindo todos eles chegando, mortos, numa travessa, fumegantes e empanados. Os bichos estranhos ficariam bem numa paella e o cardume frito, numa porção com cerveja. Que delícia!

Não podia existir esse dilema. Ser retirado da água fresca e jogado, às vezes vivo, em óleo quente e água fervendo é muito cruel.

O evento estava muito tranquilo, podia até ter a trilha sonora de uma flauta transversal. Precisávamos de algo mais rock’ n’ roll, e foi o que tivemos. Na volta, “o mar não tava pra peixe”, ou seja, estava turbulento. Mais uma vez, o chamamento suicida me convidou a “dropar” aquelas ondas que arrebentavam na proa do barco. Meu cunhado, esquecendo esposa e filhos, topou a insana aventura. Por que não?

Na parte de cima da embarcação, juntamo-nos a um punhado de argentinos, naturalmente pouco apegados à vida. A cada imenso volume d’água que quase adernava completamente a escuna, gritávamos e ríamos, como num Boca Juniors e River Plate ou Corinthians e Palmeiras. O “capitão” e a tripulação, num misto de raiva e responsabilidade, chamavam todos para baixo. Por causa da insistência, descemos com cara de Jack Sparrow, o pirata e Simbad, o marujo. Todos nos olharam com cara de Dramin.


De volta ao tédio, aquele convés mais parecia a espera do Poupatempo. Levantei e fui, me equilibrando, até o banheiro. Um dos tripulantes perguntou: “Tu tá mareado (enjoado com o mar)?”. Essa pergunta veio com um triunfante sorrisinho escapando no canto da boca, típico de quem estava esperando o turista paulista enjoar. Com a negativa à pergunta, terminei o passeio que virou aventura com vontade de beliscar uma porção de peixe com uma cervejinha bem gelada.

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