Fiat 147 amarelo — “Eppur si muove” 🔵



Quando a idade para dirigir um carro é atingida, qualquer coisa que se mova se torna objeto de desejo. E foi com qualquer coisa que meu amigo surgiu. Meu amigo anunciou, orgulhoso com a conquista: “Eu comprei um carro!”. Concluí que a conquista seria muito boa, um divisor de águas, um rito de passagem. Olhei para a esquerda, nada. Olhei para a direita, nada. Olhei para a frente, só havia um Fiat 147 amarelo. Pela empolgação, não podia ser o Fiat.


Era. O simpático carrinho deveria ser tão velho, que não tinha GPS, poderia ter, no máximo, um astrolábio. Contudo, aquele objeto andava, isso era o suficiente. Um pouco de combustível era o bastante. O veículo era modesto, mas significava um “sonho de metal” que andava!


Passamos pela rua principal do bairro. Suspeito que aquilo despertou a curiosidade de quem estivesse a uma distância considerável dali.  A cor e o estado do veículo chamavam a atenção de todos. Éramos bem conhecidos, e meu amigo fazia questão de “avisar” que estávamos passando. Todos rapidamente saíam nas portas dos estabelecimentos comerciais e das casas para ver, curiosos,  o que estava acontecendo ou nos saudar. Aquela sensação foi a de guiar o carro da pamonha de Piracicaba, participar de um desfile da cidade ou ser uma atração do circo (com dois palhaços dentro) que estava chegando. Se alguém quisesse discrição, passeando pelo bairro sem ser notado, era melhor não embarcar na viatura. O grande evento foi o desfile daquele carrinho amarelo. Todavia, o Fiat andava e, naquele momento, era isso o que importava.


Até que fomos longe, para aquele meio de transporte. Acabou o freio, mas estávamos a bordo de um automóvel que não obedecia os limites da mecânica. O desconhecimento do valor da vida, pelo condutor, também contava. Audaz, ele ainda andava, isso era o suficiente. Seguimos usando o freio de mão.  Ainda havia o acelerador, isso, sim, era indispensável; o freio, somente em caso de emergência. Finalmente, poderíamos ilustrar aquela máxima: Nóis capota, mas não breca.


Ainda tínhamos o acelerador, algum combustível e estávamos a bordo de um automóvel que poderia levar-nos às casas de outros amigos e a algum bar.  Afinal, ele anda! Dirigir esse carrinho foi mais legal do que dirigir muitos carrões.


Voltamos incólumes e empolgados com a novidade, isso merecia uma comemoração, fomos beber umas cervejas. Essa alegria durou pouco. Pouco tempo depois, o Fiat 147 amarelo não andava mais. Nem eu...


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