O humor mal-humorado

 

A bola estava quicando na cara do gol. Bolsonaro foi lá e chutou. Eu usei esta ridícula e previsível metáfora futebolística para lembrar da risível acusação de “importunar uma baleia”. Esperto, Bolsonaro inverteu a situação, transformando o que seria um depoimento à PF (Polícia Federal) de São Sebastião, cidade litorânea de São Paulo.


O evento bolsonarista lotou e, o principal motivo deste texto, contou com a presença de uma baleia inflável. Bolsonaro fez de um limão uma limonada. Mas quem levou a baleinha no evento, tenho certeza, causou risos e gargalhadas em quem viu a cena. Com essa simples e infalível brincadeira, o zombeteiro fez o que humoristas perderam a oportunidade de fazer: esfregar na cara das autoridades o quanto é ridículo “o caso da baleia importunada”.


De outro lado, quando o Lula perambula pelos palanques, parece um “stand-up comedy” do demônio. Há uma alteração total: assume uma postura arqueada, sua expressão fica franzida, o rosto avermelhado, a voz gutural e o conteúdo da fala é odioso. Vociferando e espumando ódio, ele gasta seu exíguo tempo maldizendo — do fundo da alma, com forças vindas das profundezas do submundo — seu adversário (inimigo?) político. Parece tratar-se mesmo de uma possessão demoníaca.


Lula, presidente que é, estranhamente não é alvo de comediantes, ainda que seja um manancial de humor involuntário. Os piadistas a favor estreitam muito o alvo humorístico quando excluem “essa ou aquela” categoria e, principalmente, o mandatário, que naturalmente seria a vítima principal por representar o poder.


Para piorar, medidas teratológicas, histórico de corrupção frenética, gastança irresponsável, apoio a ditadores e terroristas e incompetência grupal contam com um silêncio e o beneplácito medroso e condescendente dos bobos que obedecem essa corte. Talvez seja o medo de contrariar a “beautiful people” do humor; talvez seja só bajulação mesmo.


Infelizmente, estamos assistindo a um suicídio coletivo de uma geração de humoristas que parecia ser promissora. Enquanto isso, fica esse hiato de criatividade sucedendo Chico Anysio, Jô Soares etc.

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