Tiro no pé

 


Ele foi elevado a herói, com direito a boneco. Capa de revista, homem do ano, convidado para um punhado de entrevistas, bajulado e aplaudido por onde passava. Sua esposa, Rosângela Moro, se divertia no Twitter. Este era o céu.


Sérgio Moro foi convidado e, apesar de discordar da pauta do Bolsonaro, largou a carreira na Magistratura e embarcou no governo. Como ministro da Justiça, fez vistas grossas para verdadeiros abusos contra cidadãos, durante a pandemia.


Justamente no meio da tal pandemia, saiu do governo. A partir desse momento, ele se revelou um verdadeiro vilão. Saiu do governo atirando. Convocou a imprensa (inimiga) para uma coletiva, deu entrevista para a Globo (muito inimiga) e acusou (sem provas) o presidente de interferir na Polícia Federal.


A partir daí, a imagem do Moro só se desgastou. Estranhamente, como o Cavalo-de-Tróia, o ex-ministro já infiltrara-se com a intenção de pegar Bolsonaro no pulo. Brasileiro não tolera traidor, e o histórico dele já era o suficiente para considerá-lo assim. As tuitadas “lacradoras” não lembravam o juiz austero, imune às provocações e avesso a conceder entrevistas. Ele (ou Rosângela Moro) enfrentava os haters na internet. Esse é o inferno.


Fora do governo, fora da Magistratura e experimentando a impopularidade, sua esposa quer deixar o país, antes que sua biografia se dissolva mais. 


Sérgio Moro arranjou um emprego. Ele foi contratado pela consultoria Alvarez &  Marsal, responsável pela recuperação judicial da, vejam só, Odebrecht. A contratação foi, mais que magnânima, cirúrgica, pois o recém-contratado é um dos maiores especialistas em Odebrecht. Sabe tudo do “compliance” (conformidade) da construtora. 


A vaga de emprego, preenchida pelo ex-juiz da Lava Jato, não é ilegal, mas é imoral. O ex-juiz é a personagem que chega transbordando tráfico de influência, sendo que a Odebrecht precisa de integridade corporativa.


Sérgio Moro exibe uma personalidade estranha, diferente do juiz sério, imune a provocações, avesso a entrevistas, tímido. Como que possuído por um vírus vindo do espaço, Moro virou um “lacrador”. Uma criatura cósmica assumiu seu comando e tomou seu Twitter. Ele até está sendo convidado para concorrer à Presidência, formando uma frente ampla “isentona”, composta pelas figurinhas mais oportunistas da República.


A esquerda já não gostava do juiz, porque ele implodiu o PT e seu plano maquiavélico de perpetuação no poder; a direita o despreza porque considera o ex-herói um traidor.

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