Playcenter: o lugar onde tudo acontece 🔵

 



O Playcenter foi um lendário parque de diversões em São Paulo. Ter o Passaporte da Alegria era motivo para perder o sono, sabendo que no dia seguinte ficaria entre a montanha-russa, a auto-pista, o barco Viking e outras atrações. O parque era uma espécie de Neverland (sem o Michael Jackson). O Passaporte era como o Bilhete Premiado, que dá acesso à Fábrica de Chocolate.


Lá, além das atrações fixas, havia as promocionais e/ou temporárias e algumas que fizeram história. Exemplos: Monga, a Mulher-macaco - imitação de circo de horrores, show de aberrações ou freak show.  Na verdade, um truque barato de espelhos; O Show dos Ursos - um bando de ursos mecânicos músicos; e alguns mamíferos escravizados e amestrados, como a   Orca, a Baleia Assassina - fazendo a alegria de famílias entupidas de pipoca, refrigerante e cachorro-quente. 


O Playcenter foi um parque com a cara dos anos 80, mas foi nos 90 que a brincadeira não teve tanta graça. Sem nenhuma criatividade, resolvemos ir ao manjado parque. Uma turma e nenhuma ideia original. Tudo bem. Antes da decadência e fechamento, não sabíamos que o local se tornaria cult.


Então fomos. Tudo como sempre, longas filas, adultos agindo como crianças e gente vomitando e gritando. Mas o principal “passatempo” aconteceu numa interminável fila duma montanha-russa. A fila fazia um zigue-zague, de modo que a gente sempre cruzava as mesmas pessoas. Já na fila, uma menina da nossa turma armou um desentendimento com uma garota de outra turma. Acontece que a menina de lá era a “Abelha Rainha”, então mais umas duas tomaram suas dores e formaram uma pequena gangue feminina empoderada.


A confusão não frutificaria, não fosse o inoportuno zigue-zague. A cada reencontro, as mútuas provocações aumentavam. A apreensão da galera era grande, esperando as vias de fato. O público só aumentava e, se não me falha a memória, estavam recolhendo as apostas. A montanha-russa virou atração secundária. O legal era enfrentar a fila,  que quanto mais demorasse, melhor.


Eu pensei ser um espectador privilegiado, mas quando o clash se consumou, sobrou pra mim. Entre arranhões e puxões de cabelos, eu tinha que fazer algo. Entrei no meio, para separar aquilo. Seria mais fácil separar uma luta de tigres selvagens. Vendo que eu sairia no prejuízo com aquela intervenção, puxei minha amiga para fora daquele aglomerado de mulheres em pleno ataque de nervos. Ä medida que eu puxava, o som de fios de cabelo arrebentando foi inevitável. E, é claro, sobraram escoriações para mim, mas concluí o resgate. Se esse episódio ocorresse hoje, tenho certeza, haveria filmagens por todos os ângulos e os vídeos bombariam no YouTube.


Tudo acalmou: as meninas e a plateia. Mas o pior ainda estava por vir e ocorreria longe dali. Um funcionário, do alto, apontava para as lutadoras e eu. Pronto, entendi o que ocorreria dali pra frente. Próximo da nossa vez de entrar no brinquedo, saímos, cabeça baixa, em fila indiana. Eu esperava manifestações de apoio, porém nos retiramos debaixo de vaias e xingamentos.


Fomos encaminhados à salinha da segurança do Playcenter. Como norma do parque, a sentença seria expulsão e banimento. Isso não era justo. Eu ia com minha mãe naquele lugar desde muito novo. Já fui na Montanha Encantada, xícara maluca, carrinho que bate-bate, carrossel, entre outros brinquedos. Poderia dizer isso, com os olhos em lágrimas e voz trêmula, apelando pro lado sentimental do segurança, mas acho que não pegaria bem.


Nas dependências administrativas, os nervos se acalmaram, rolou até um conluio entre os “fora-da-lei”, porque o prejuízo era grande.  Conseguimos convencer o chefe da segurança de que manteríamos um distanciamento seguro, além de haver mais amigos que não tinham nada com isso.


Até o fechamento do parque, houve alguns “encontros” e rosnados, mas nada além disso. Esse foi um dia nada divertido, num parque de diversões.

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