Atirei o pau no Borba Gato

 



Escultura escarrada e cuspida do bandeirante que permanece em Santo Amaro, apesar dos diversos atentados que tem sofrido. Desde que foi erigida, em 1962, continua em pé, alvissareira, solerte, orgulhosa, 


Borba Gato recebeu a inexplicável homenagem, hoje é ofendido como “Monstrumento”, mas permanece impávido colosso. Resignado com o triste destino, o símbolo do controverso vulto paulista foi transportado do século XVIII para ser humilhado e vilipendiado pela eternidade. No dia 24, a imagem foi imolada, vítima da neo-inquisição, não teve direito nem a um tribunal justo. Como se fosse vítima do STF — provocado por um sempre incomodado PSOL —, Borba Gato, proscrito há séculos, ardeu em chamas.


Mas ele sobreviveu a essas mentes obscurantistas, almas podres que fingem ficar incomodadas com racismo e xenofobia, por exemplo, querendo destruir um monte de pedras, como se o suposto “protesto” tivesse alguma efetividade ou isso fosse apagar o passado questionável dos nossos personagens. Pelo contrário, a simples lembrança do bandeirante suscitará o debate para que isso ou algo parecido nunca mais ocorra, além da estátua alegrar a coletividade.


A estátua de gosto duvidoso do Borba Gato foi incinerada, entretanto se manteve em posição de sentido, corajosa, intrépida, destemida, sem medo, não se abalando pelo temor de ataques covardes, alerta e pronta para uma guerra particular. Perto dos perigos que o velho bandeirante  enfrentou com seus amigos — que só são lembrados nos feriados prolongados em nomes de rodovias —, esse monte de playboys, metidos a justiceiros sociais, covardes acostumados a óleo de fígado de bacalhau sabor laranja, mertiolate que não arde e Nutella, fugiriam no primeiro grito. Esses anti-heróis enfrentavam a mata desconhecida, feras, a noite escura, guerras e alguns insetos (sem repelente!).


O horrendo monumento, apesar de tão feio, já foi incorporado ao mobiliário urbano como uma peça folclórica, portanto obrigatória. Praticamente nos arranca da zona de conforto, com sua ausência, imaginar que teremos que usar como referência um posto de gasolina, uma farmácia, uma padaria, um farol ou um orelhão (nem sei se ainda existem) toda vez que formos lá pelos arrabaldes de Santo Amaro.


Vida longa a esse totem paulistano que nunca imaginou ser chamado de genocida e fascista — nos séculos XVII e XVIII —, muito menos ter a alma purificada nessa, nada santa, fogueira.


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