Podcast

 



Podcast não é só um arquivo de áudio, é um conceito. Não adianta grandes empresas de comunicação transformarem ou produzirem programas tradicionais no formato, o resultado é um produto chato, engessado e formal, apesar da qualidade técnica. Essa molecada, chamada de influencers, porém, meteu o pé na porta e entrou na produção de conteúdo sem pedir licença — melhor, invadiu.


Falando exclusivamente dos podcasters, diferente das onerosas programações feitas por antigos profissionais da televisão, a molecada ligou um celular e começou a conversar. A informalidade diminuiu a distância entre o emissor e o ouvinte.


A programação televisiva vem sendo ignorada, já não é centralizadora como era até os anos 90, quando as coisas só aconteciam quando apareciam no Jornal Nacional. A televisão está perdendo audiência para a internet e a tendência é o aparelho se tornar apenas uma plataforma de smarttv, streaming. Por enquanto atrai audiência para o futebol ao vivo.


Os podcasters se profissionalizaram. Equiparam estúdios com microfones bons, telas, decoraram esses estúdios, atraíram patrocinadores e convidados (que escolhem muito bem onde vão). Enfim, com disciplina, profissionalizaram-se e conseguem viver disso.


Semana passada, dois canais de podcast entrevistaram Ronaldo Fenômeno e Lula, o cara que reveza-se entre a cela e a sala. A entrevista do Ronaldo evidenciou bem a diferença entre um papo jornalístico e uma conversa descontraída entre amigos “boleiros”. O papo foi algo próximo de como — e do que — se conversa em um vestiário ou concentração. Depois do que ouvi, quaisquer entrevistas com jogadores vão parecer papo de beira de campo: “Eu vim pra somar”, Vamo ve quem tem mais garrafa vazia pra vendê” etc.


Quanto ao monólogo de Lula, fora o fato inusitado de ele ter aceitado o convite, não houve grande diferença entre o ex-presidiário ter combinado as perguntas com jornalistas amigos e os dois garotos. Perdi algum tempo para confirmar o que sabia que aconteceria: Lula armou seu palanque e fez um comício, fazendo dos inexperientes meninos uma plateia abobalhada. Os donos do programa pouco entrevistaram, limitando a exprimirem interjeições. O grau de bajulação — e vergonha alheia — foi ao paroxismo quando os atributos físicos do ex-presidiário foram exaltados. Atitude estreada, no jornalismo, por Juca Kfouri e Merval Pereira. O Lula dobrou a dupla, transformando o podcast numa TV dos Trabalhadores (TVT). Qualifico essa entrevista do Lula com a mesma curiosidade da presença do Pedrinho Matador num programa de entrevistas.


Apesar da infeliz experiência da tentativa de entrevista do Lula, o formato podcast é disruptivo. Assim como a maneira que consumimos música, jornal e revista mudou, o podcast está mudando, na forma e conteúdo, quaisquer arquivos de áudio. A televisão já está sofrendo com isso.



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