🔵 Sangue, assombrações e notícias falsas

 


O trabalho da Universidade sugeria uma ideia ousada. Não foi difícil e instigante aprovar a sugestão de garimpar as reportagens sensacionais e sensacionalistas do, então moribundo, jornal ‘Notícias Populares’.


Eu fiquei encarregado de ir até o prédio do jornal ‘Folha de São Paulo’ pesquisar os arquivos do mítico jornal popular e popularesco. Esse jornal era do tipo “espreme que sai sangue, imprensa marrom e/ou sensacionalista”. Essa estigmatização é enganosa porque parte da publicação era deliberadamente absurda, cabendo ao leitor o discernimento.

 

O ‘Notícias’ estampava com destaque na primeira página lendas urbanas, bestas quase mitológicas, acontecimentos impossíveis e manifestações cômicas como se fossem  fatos urgentes. As notícias falsas não sofreram a falsa preocupação política nem a criação do carimbo “fake news” (eufemismo para esconder a censura).


Naquele tempo, a ‘Folha de São Paulo’ ainda merecia credibilidade e uma reverência. Portanto, para quem cursava Jornalismo, aquele edifício da alameda Barão de Limeira era um objetivo. Fui entrando e cada pessoa com quem eu conversava, cada setor por qual passava, eu confirmava o imaginário, bem como as expectativas.


Eu prestava atenção na fotocopiadora, enquanto me “embriagava” com o arquivo do ‘Notícias’ e espiava a movimentação frenética da Redação da ‘Folha’. Manchetes históricas, bem como absurdas, do ‘Bebê Diabo’ e ‘Chupa-cabra’ me mantiveram ocupado, enquanto eram folheadas, e contribuíram para que o tempo passasse rápido e meu trabalho não merecesse esse nome. 


Antes de abandonar o centro da cidade, um refrigerante na padaria ajudaria na recordação de tudo o que acabara de acontecer. Mesmo recém-ocorrido, aquilo já merecia a lembrança. 


À noite, bastaria relatar ao grupo o meu enorme “altruísmo” por ter ocupado a minha tarde selecionando o material do jornal ‘NP’. Na sala de aula, para o trabalho, bastou que eu reproduzisse as matérias do memorável jornal ‘Notícias Populares’ e deixasse sua popularidade falar por si.


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