Aventureiros do bairro proibido 🔵



Dia 25 de dezembro, almoço de Natal com a família da namorada, em Santos. Na volta para São Paulo, faltava água no radiador. Começou a sair fumaça. Sem problemas, voltamos para casa e enchemos o reservatório com água. Saímos novamente, sob olhares desconfiados.


Aconteceu a mesma coisa com o carro. Porém estávamos quase na subida da Serra do Mar, portanto longe da casa de Santos. Mais precisamente, na escuridão da estrada, ao lado de um bairro barra pesada. Por alguns segundos eu pensei em qual seria a maneira menos traumática de sair daquela situação. O que julguei ser o melhor foi apanhar as mochilas e entrar no bairro “proibido”. Eu sabia que o automóvel seria praticamente abandonado. Naquele acostamento escuro e perto de um bairro inóspito, provavelmente nunca voltaria a vê-lo inteiro. Aquele cenário estaria completo se aquela fosse uma rodovia secundária e o único lugar que oferecesse hospedagem chamasse Bates Motel.


Entramos no Bairro Proibido. A primeira impressão era, no mínimo, preocupante: assaltantes, prostitutas, piratas, trapaceiros, gângsters, proxenetas e assassinos. Parece preconceito,  mas o medo, diante da situação, realmente me trouxe essa visão. Além de tudo, nós estávamos vestidos como quem saía do Golf Club. Certamente, éramos vistos como turistas cheios de dólares, só faltava a máquina fotográfica pendurada no pescoço. Definitivamente, destoáramos completamente daquelas pessoas.


O tempo todo, fiquei imaginando como eu reagiria à primeira tentativa de assalto. Mas a coisa toda começou a ficar muito estranha. Ninguém olhava para nós, andávamos pela rua principal e era como se não existíssemos. O único estabelecimento comercial existente ali era um bar com aparência bem estranha. Fomos até o balcão para pedir informações. Estranhamente, fora a balconista, ninguém notou a nossa presença.


Um pouco mais confiantes, paramos na porta do boteco. Agora precisávamos de uma caneta e um telefone. Eu já agia com a confiança de quem tinha a ajuda da Divina Providência ao meu lado. Logo veio a caneta: um senhor, também destoando do ambiente, se aproximou, oferecendo o objeto. Atravessávamos a rua em direção ao telefone público (orelhão) para chamar um guincho. Duas meninas estavam “penduradas” no orelhão, parecendo que não iriam abandoná-lo logo. Contrariando as expectativas, as duas olharam para mim assustadas e imediatamente saíram apressadamente. Fiz os telefonemas, e voltamos para a rodovia.


Sabíamos que tudo daria certo, porque, contrariando as expectativas iniciais, tudo estava dando certo. Eu achava que o carro seria encontrado, sem as rodas, sobre quatro blocos. Para minha surpresa, não foi nada parecido que encontramos. Diante da inesperada incolumidade do veículo naquela bocada, mas tranquilos, aguardamos o socorro.


Nada de cruzeiro marítimo, aquela noite nos obrigou a fazer um belo e inesquecível passeio de... guincho.


O restante da história foi sossegado e dentro do normal. Tudo que aconteceu no Bairro Proibido foi sobrenatural, parecia um episódio de Além da Imaginação, uma dimensão oculta. 






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