La garantia soy yo

 



Eu estava sossegado com o tal do voto eletrônico. Bastava digitar os números e a apuração terminava no mesmo dia. Fim do horário eleitoral gratuito, fim daquela massaroca de santinhos e esgoto, e, principalmente, fim dos candidatos fingindo ser “gente como a gente”, sorrindo forçadamente, dando tapinhas nas costas e simulando preocupação com as queixas da população. O teatrinho vai ao paroxismo quando políticos abraçam, erguem no colo e beijam criancinhas remelentas e cheias de vermes, bem como estacionam (com um séquito de puxa-sacos) num boteco sujinho e engolem a exótica baixa gastronomia.


Inicialmente, esse papo de voto impresso e urna auditável não me convenceu. Afinal, todos brincávamos de cidadania na festa da democracia: a gente fingia que escolhia os governantes, eles fingiam  que cumpririam suas promessas.


Mas diante da insistência de Luís Roberto Barroso para que tudo permaneça como está, concluí que algo está muito errado no processo. Barrosão não seria alguém em quem eu confiaria. Juro que compraria um iPhone na Cracolândia, mas dele nunca. 


O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) reagiu de forma desproporcional à proposta de mais transparência no processo eleitoral: o STF ignorou a decisão do Congresso; muitos políticos mudaram de ideia — por ser um projeto bolsonarista —; Barroso gastou dinheiro público para lançar propagandas desesperadas, querendo convencer de que as urnas são confiáveis. O ministro está estrebuchando demais, parece que jogaram água benta nele. 


Luís Roberto Barroso exagerou no histrionismo de sua reação, o que tornou tudo muito esquisito. Diante da mera suspeita da confiabilidade das maquininhas, ele despertou das trevas, praticamente dizendo: saiam, não há nada para ser olhado aqui. E a insistência de que a traquitana é confiável é tão infantil quanto responder: porque sim ou porque não.


O presidente do Superior Tribunal Eleitoral (TSE) sai do STF. Com essa procedência a coisa não pode ser boa. Em 2014, Aécio Neves estava em primeiro, quando o “sistema” (sempre ele) caiu; de   repente saiu, da “salinha secreta”, José Dias Toffoli, anunciando Dilma vencedora do pleito. Pois eu confio mais em bingo de quermesse e em rifa de escola que em alguém oriundo dessa composição do STF.


O ministro deu azar. A reivindicação ganhou as ruas, ficou popular e agregou a pauta da contagem pública. A luta era quase individual (deputada federal Bia Kicis), mas devido ao incômodo do Barroso e o comportamento estranho de alguns políticos, eu topo retroceder a tecnologia eleitoral e confiar mais no processo. Se é ruim para ele, é bom para o País.

Postagens mais visitadas deste blog

Inseto Insípido - Letra: Rafael da Silva Claro (1996) ▪️

Operação gambiarra

Canetada