O choro é livre

 



Tinha pão com mortadela? Não. Tinha tubaína? Não. Tinha ônibus gratuito? Não. Havia apresentações musicais? Não. Havia sorteios de carro e apartamento? Não. Não teve nada disso, porque o evento não foi realizado por centrais sindicais. Antes, a República Sindicalista irrigava os cofres dos sindicatos. 


O Primeiro de Maio é um dia marcado por reivindicações trabalhistas no mundo inteiro, aqui era diferente. Com dinheiro viajando em malas, cuecas e com uma generosa contribuição sindical compulsória, o feriado do trabalho tinha adesão popular com gordos prêmios, shows e o kit manifestações esquerdistas — busão grátis, pão com mortadela, tubaína e um trocadinho. E, para dar um aspecto de manifestação, bandeiras e balões da CUT (Central Única dos Trabalhadores. Um sucesso.


Outros trabalhadores ousaram ocupar as ruas. Reivindicando o fim de quaisquer medidas ditatoriais, como esse inexplicável lockdown; o respeito ao que está escrito na Constituição; e deixar o presidente governar. Sempre têm reivindicações muito particulares, como o artigo 142, generalizar isso é querer distorcer. As manifestações foram um sucesso, isso irritou muita gente.


Grande parte da imprensa tradicional, não podendo ignorar as manifestações, minimizou, distorceu e ridicularizou o fato. Ficou feio, porque o malabarismo com as palavras foi  muito evidente. Em alguns casos, a tentativa de dizer que o que foi não foi como foi ficou tão clara que esse subterfúgio revelou um certo nervosismo, militância política e inveja. Tudo isso é triste, porque nada disso combina com a atividade jornalística ou maturidade. Não basta se dizer democrático, é preciso ser democrático.


É decepcionante constatar que a imprensa que eu consumia, usando para me informar, agora se presta a isso. A primeira página de um jornal, a chamada de um telejornal servem para desinformar. O descolamento da realidade, o afastamento do cidadão comum é tão grande que eu vejo jornalistas com vergonha da profissão.


Sem estímulo financeiro e sem líderes, o protesto do Dia do Trabalho foi, até que enfim, de quem quer trabalhar. Nesse dia, ficou provado quem ocupa as ruas e avenidas espontaneamente. 


Como disse uma jornalista: o  choro é livre.


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