É proibido proibir
O Carnaval, que seria uma celebração liberal, está infestado de regras. Justamente quem se diz progressista, tornou-se vítima do próprio veneno: o, muitas vezes nefasto, politicamente correto. Essa praga atingiu a festa pagã, aquele momento que seria o paroxismo do “pé na jaca”, ou do politicamente incorreto, logo terá mais restrições que a Parada das Rosas.
A recomendação, há anos, é feita de maneira peremptória, mas cheia de lugares-comuns. Segundo a “Gestapo” da Festa de Momo, essas caracterizações são apropriações culturais e tem que ter lugar de fala para isso.
Fantasias para não usar no Carnaval:
▪️cigano: redução de uma cultura a bandana e lantejoulas;
▪️homem vestido de mulher: reforça os estereótipos de gênero, além de a ideia ser machista e preconceituosa;
▪️índio: pega uma cultura ampla e diversa e a constrói de maneira generalizada e estereotipada;
▪️Iemanjá: divindade de religiões de origem africana, que sofrem intolerância e racismo;
▪️muçulmano: desrespeito com a religião islâmica;
▪️empregada doméstica e enfermeira, de forma sexualizada: evidencia as relações de poder e machismo; e
▪️Fábio Assunção (!?).
A turma de esquerda (mortadela) encaretou. Proibir e censurar, eram prerrogativas da direita. A direita (coxinha), outrora carrancuda, ressurgiu mais leve, bem-humorada e sem proibições. É a nova contracultura, porque contesta, em vez de querer que tudo continue como está (quando está errado) e tentar emplacar hashtags que só duram um dia.
Com esse index de proibições, o Carnaval de rua, que era para ser uma festa, vira uma marcha policialesca, com pessoas observando ao lado, para encontrar, e apontar, alguém errado. Se algum indivíduo ousar transgredir as leis do politicamente correto, passando a linha do aceitável no, vejam só, Carnaval, estará proscrito.
Agora, as meninas estão estampando o aviso: “não é não”. Pelo que aprendi, “não” sempre significou “não”, e “sim” sempre foi “sim”. A linguagem não falada/escrita, sempre disse tudo. Ah, gente ignorante não será dissuadida por palavras.
O Carnaval está com tantas regras, que será cada vez mais difícil distingui-lo da Quaresma. Essa festa, sempre foi motivo para esquecer os problemas, mas a vitimização e problematização causam o contrário. Pronto, gourmetizaram o Carnaval.
“Ratos e urubus, larguem minha fantasia”.