A volta da vacina


O COVID-19 (coronavírus) ameaçou, até pegar. Em telejornais, deu a exdrúxula manchete: “Confirmada a suspeita de contaminação”. A palavra “confirmada” já é motivo para vacinação instantânea. O termo “suspeita” sugere cautela. Se forem aceitas, as palavras manipulam. Isso é pensado.

O Brasil é inundado por produtos falsos, vindos da China. Máquinas fotográficas falsas, relógios falsos, roupas e acessórios falsos e brinquedos falsos. Agora, o que mesmo falso seria muito bem-vindo: o alarme. Esse não era falso. Eu nunca vi tanto o Jornal Nacional querer anunciar: vírus chega ao Brasil. Chegou. A histeria coletiva ganhou uma justificativa.

A correria foi grande. Sumiram, das farmácias, os estoques de álcool gel e máscara cirúrgica. O principal sintoma, já detectado, é a paranoia. A gripe e a dengue são mais letais, embora o COVID-19 dissemine mais rápido e já tenha virado uma pandemia. Um comportamento foi inédito e absurdo: torcida para o patógeno contaminar algum brasileiro e alegria quando isso aconteceu. Coisas da oposição política. É... tem gente assim.

Com a disseminação dos boatos via celular, essa “doença” impulsionou a proliferação da boataria. Em uma combinação de fake news e teoria da conspiração, dizia-se que: a vacina causava autismo. Tem mais, há algum tempo, vem sendo disseminada a falsa notícia que a vacinação é: uma estratégia do governo controlar a população. Nesse caso, inoculando doenças ao invés de evitá-las. Isso é para ver que, de onde saiu a teoria da Terra Plana, tem muito mais.

A paranoia é antiga, por motivos diferentes. Em 1904, o Rio de Janeiro foi palco da Revolta da Vacina. Essa revolta se deu, dentre os vários motivos da época, porque a vacinação contra a varíola era à força (Lei da Vacinação Obrigatória) e pela reurbanização, que afastou os mais pobres da região central (Rio de Janeiro). Quem pagou o preço foi o médico sanitarista brasileiro Oswaldo Cruz. 

Com essa nova pandemia a revolta é se não houver vacina. 






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