Bar do motoclube 🔵



Esse simpático boteco era, de fato, um ambiente familiar. Mais precisamente, “de la famiglia”. A frente era, basicamente, um disfarce. NĂŁo chegava a ser um “speakeasy” (bar escondido da Lei Seca). No máximo, alĂ©m de matar a sede, a contravenção restringia-se a uma máquina caça-nĂ­queis — essas de periferia — e um “pinball” franqueado a menores, funcionando como introdução ao vĂ­cio.


O ambiente enganoso começava a desmoronar à medida que se avançava no corredor em direção aos fundos da espelunca. No corredor, ficava a máquina de fliperama, apenas como convite ao vício, porque atraía os mais jovens.


Nos fundos do botequim, nada mais do que um quintal, recinto apenas permitido a convidados. Somente Ă­a direto para lá, quem conhecia bem o lugar. No quintal, ficavam uma mesa de bilhar — viciada, como alguns dos frequentadores — com alguns tacos tortos, gizes umedecidos, mesas e cadeiras (de ferro) dobráveis, um aparelho de som e uma churrasqueira do motoclube. Alguns copos americanos vazios e cinzeiros sujos denunciavam a presença recente de alguma outra confraria. Lá, podia-se conversar sem ser localizado ou incomodado. 


Barzinho legal para fazer um “esquenta” (happy hour), antes de ir para o “pico” da noite, ou, Ă s vezes, um lugar eleito de Ăşltima hora. Local de brigas, amizades feitas e refeitas que desembocavam na cerveja, bilhar, rock n’ roll e, de sexta-feira, um churrasco. Nos melhores dias, tudo isso.


Como em todo bom boteco, no balcĂŁo havia um “showroom” da baixa gastronomia, ou da apreciada “comida di buteco”. Estavam expostos, os clássicos ovos cozidos coloridos, algo inominável boiando numa conserva turva, salsichinhas com tempero agradável e outras iguarias. De vez em quando surgia algo comestĂ­vel, prontamente devorado para aplacar os efeitos do álcool.


Nesse ponto de encontro, em lapsos de genialidade, surgiram grandes ideias: encher a cara em algum lugar de São Paulo ou viajar, num bate-e-volta, para alguma cidadezinha. Se não surgisse uma sugestão memorável ou se aparecessem pessoas legais, ficávamos lá mesmo.


Esse, como quaisquer outros bares, era frequentado por tipinhos que parecem ter sido extraĂ­dos de tirinhas de jornal — talvez, sob alguma visĂŁo apurada, eu seja um desses.

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