O astro do videokê 🔵

 




É horrível quando alguém ousa agredir a audição alheia arriscando a garganta num videokê. Enquanto o equipamento fica escondido num cantinho do boteco, guardando pastas com canções para todos os gostos e dois irritantes microfones, tudo bem.


O paradoxal é que eu cantei muito nessa maldita invenção, confirmando a máxima: quem se diverte é quem canta, não quem ouve. Sertaneja, romântica, pop, rock, mpb etc, todo tipo de música, inclusive as que eu não gosto de ouvir, são cantadas, ou, às vezes, berradas.

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Parecia mais uma festinha de fundo de quintal, literalmente. Mas dessa vez não era só isso.  Apesar de ser familiar, a comemoração seria impulsionada pelo álcool e pela novidade tecnológica.


A princípio, o tal do videokê foi explorado com parcimônia, mas quando atraiu os primeiros curiosos o equipamento logo se tornou o centro das atenções. À medida que o álcool ía subindo, mais candidatos expunham os secretos dons artísticos. Nessa toada, desfilaram músicas nacionais e internacionais.


De madrugada, quando quase todos tentavam dormir, sobramos meu cunhado e eu “destruindo” a máquina. A timidez ía diminuindo com o conteúdo das garrafas de cerveja, de modo que todo o repertório disponível nas pastas do videokê chegaram aos ouvidos de insones vizinhos e parentes.  Como sempre, rock, mpb, sertanejo, pop etc. O repertório se esgotou, na falta de opção, sobrou até para o Hino Nacional Brasileiro. As excelentes notas, dadas pelo computador nos animavam e enganavam. Provavelmente, pelo grau etílico alcançado, meu senso estético, bem como o bom senso, sumiram. Então confesso: aquele fim de festa me fez pensar numa carreira musical. Felizmente, a ressaca do dia seguinte me dissuadiu dos devaneios musicais.


Karaokê eletrônico (videokê) foi a praga dos anos 90, substituindo a música ao vivo. Eu frequentei lugares que dispunham essa máquina como diversão. Arriscando o uso, viciei. Pior, comecei a cantar canções que jamais ouviria em casa: sertanejo, pagode etc. Alguns momentos foram impagáveis. O que para alguns talvez tenha sido o fundo do poço, na verdade significou o auge. Não é todo dia que se canta Help dos Beatles num dueto improvável com Rambo, o figura do bairro.






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