Shopping Cidade Jardim 🔵

 



Eu sempre gostei de shopping e achava isso normal. Pelo menos, até ir ao shopping mais exclusivo de São Paulo à época (talvez ainda seja), o Cidade Jardim.


Esse centro de compras, entretenimento e alimentação é tão proibitivo, refratário para gente não “diferenciada”, que não tem entrada para pedestres. 


Eu resolvi conhecer um local onde sabem a qual classe social você pertence (e se você é alguém interessante) pela etiqueta da sua roupa. Entrei ali, trajando tênis surrados, calça de agasalho, jaqueta jeans gasta pelo tempo e um boné velho. Com essa roupa, digamos, “despretensiosa” devo ter sido estigmatizado e observado como alguém que “caiu de pára-quedas” nesse shopping. Eu até poderia ser alguém descolado, despojado, excêntrico, mas eu era facilmente identificável como pobre. Acho que é um carimbo imaginário: POBRE. Isso te torna, automaticamente, ao se aproximar de uma loja fina: suspeito. No mínimo um curioso.


Os seguranças devem ter seguido cada passo meu. Fico imaginando um segurança subalterno seguindo cada movimento meu em diversos monitores: escadas rolantes, corredores, portas de lojas e lanchonete.


O contrário de inclusivo (que inclui) é exclusivo (que exclui), e, nesse dia, num local exclusivo, me senti excluído. Entretanto, ninguém me tratou mal, olhou feio, cochichou ou fingiu que eu não existia. Nas poucas interações humanas que fui obrigado a estabelecer, fui recebido com muita simpatia,  atenção e alguma desconfiança que eu estava no lugar errado. Uma abordagem imaginária, porém plausível: 


— O que é que você está fazendo aqui? O Shopping Itaquera é na Zona Leste.


O preconceito todo estava na minha cabeça. O meu jeito de vestir, a ausência de roupa de grife (“uns pano de marca”) e ter chegado ali sem carro, povoou minha mente. As diferenças sociais, que eu achei que os outros teriam, partiam de mim. 


Reconheço, eu não estava na minha “praia paulistana”. Eu curto aquelas lojas nas quais você realiza o chamado “autoatendimento”, entra no provador com umas dez peças (tudo na promoção) e encontra várias pessoas vestindo camisetas com a mesma estampa que a sua. Além disso, gosto de praça de alimentação, com muitas opções, desde que tenha McDonald’s. O bom é escolher entre todas as opções - até aquele restaurante vazio com um funcionário triste segurando um cardápio -, terminando por devorar um lanche, fritas e  Coca  na lanchonete do palhaço americano. 




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