🔵 E lá se vai mais um dia...

 




Ainda criança, Ă© claro que eu preferia o rock nacional dos anos 80. Era completamente inteligĂ­vel “Eduardo e MĂ´nica” ou “Bete Balanço”, em vez daquelas mĂşsicas estranhas que falavam de “Vento solar” e “Um girassol da cor de seu cabelo” ou com nomes diferentes: “Nuvem Cigana”, “Trem de Doido” etc.


Já adolescente, trabalhando no estoque escuro e claustrofĂłbico, em uma loja de roupas, no Shopping Center Norte, eu ouvia coisas como: “Viagem de ventania”; “Vendaval, carrossel, segue a vida a rolar”; “Coração vulgar que navega no cĂ©u, que navega no ar”; mĂşsicas com nomes estranhos: “Chuva na Montanha”; “Vento de Maio”; e “A Página do Relâmpago ElĂ©trico”, mĂşsicas com harmonias “difĂ­ceis” e “acidentes” que faziam muito bem aos meus ouvidos. 


Sem saber, eu estava “fugindo pra outro lugar”. Dava atĂ© vontade de tocar um violĂŁo imaginário. Isso tudo dava saudades de algum lugar que eu nunca estive. Eu interpretava aqueles versos onĂ­ricos, Ă s vezes literalmente ou “viajando” de maneira bastante particular. Mesmo sabendo que tudo aquilo certamente foi escrito com outro sentido, descrevendo algum acontecimento ou momento, que merecia ser eternizado, sempre soube que as palavras e versos ganham o mundo. O poeta/compositor quer isso: que no fundo de um estoque de roupas, em SĂŁo Paulo, pregando alarmes, cumprindo ordens desconfiadas e repressivas, alguĂ©m imagine subjetivamente, portanto diferentemente, poesias emanadas das montanhas de Minas Gerais.


Desse modo persegui (reencontrei) as músicas do Clube da Esquina. Gravando em fitas cassete, tocando no violão, simplesmente ouvindo e inclusive lendo, fui atrás de quase tudo o que referia-se ao famoso clube das esquinas, becos e bares.


Precisei conhecer o cruzamento das ruas Divinópolis com a Paraisópolis para descobrir que nas esquinas das ruas da Vila Galvão acontecia a mesma coisa. As letras de música e as rodas de violão rolavam despretensiosas. Longe de querermos mudar o mundo, atingimos nossos objetivos mais palpáveis.

Postagens mais visitadas deste blog

Inseto InsĂ­pido - Letra: Rafael da Silva Claro (1996) ▪️

Canetada

Operação gambiarra