Efeito retardado

 

Numa guerra, já sabemos, a primeira vítima é a verdade. Porém, com o uso da internet e a polarização da geopolítica, a confusão gerada pela desinformação atingiu o paroxismo. Para frear essa verdadeira torcida (como num Corinthians x Palmeiras), o Consulado de Israel em São Paulo achou necessário apresentar como tudo começou. 


O objetivo da organização terrorista Hamas é acabar com o Estado de Israel. O “start” foi cegamente obedecido; as atrocidades envolveram sequestros, estupros e decapitações. Este foi o conteúdo do filme.


O resultado da exibição do vídeo foi como previsto: jornalistas mais sensíveis, chorando, deixaram a sala. A cena lembrou alguns alunos, na escola, reagindo àqueles antigos filmes sobre aborto (ou, de acordo com a lenda urbana, durante a “brincadeira do copo”). A sessão de cinema macabro, espera-se, deve ter surtido efeito: fazer com que a imprensa trate o Hamas pelo que ele é: uma organização terrorista; os estudantes parem de seguir, como zumbis, “gurus” ideológicos; politicamente, parem de colocar Israel e Hamas nas “caixinhas” “direita e esquerda”; e não escolham um lado como quem escolhe um time de futebol.


Alguma sequela moral ou falha de caráter em alguns jornalistas fez com que a exibição não merecesse uma reação diferente da de um filme ruim de terror. Nestes casos, a causa está perdida, portanto, só Deus pode salvar essas almas atormentadas.


A velha narrativa dos oprimidos e opressores faz com que os mais ingênuos tomem um partido nem sempre moralmente correto. Arrogantemente, achando que seu objetivo é transformar a sociedade, a imprensa se esquece de reportar os fatos. Resultado: não faz nem um nem outro; ou seja, não transforma a sociedade e mente.


Anos, décadas até, de uma relativa paz fizeram essa guerra ser encarada como um simples desafio de ‘War’ ou como um jogo de videogame. Muitos professores, consequentemente alunos, encaram-na com a tranquilidade de um trabalho escolar ou erguem uma cartolina, como quem reivindica a reforma do banheiro da escola.


Com alguma superficialidade, bravata, arrogância e transbordando estupidez, Lula resolveu dizer como resolveria o conflito. Ainda surpreende a petulância com que Lula finge uma simplicidade de boteco, trata questões geopolíticas complicadas como se fossem uma banal desinteligência entre amigos depois de uma partida de dominó ou bilhar. Neste episódio, ficou claro o constrangimento geral: até os jornalistas ficaram petrificados, a Janja (?) ficou sem graça e o deputado petista Paulo Pimenta ficou sem reação. Esse caso deixa evidente que é tarde demais para o presidente andar acompanhado de amigos verdadeiros (que o impediriam de falar tanta bobagem), em vez de bajuladores (que endossam tudo). 


“Garçom, aqui nessa mesa de bar...”

(Reginaldo Rossi)




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