🔵 O segredo

 


Inventaram um novo nome para o palestrante: “coach”. O nome gringo é apenas para dar uma “gourmetizada” no velho guru de palcos. O”coach” cobra mais caro, mas, no fundo, a essência é a mesma: ao som da musiquinha do Ayrton Senna, surge, no palco, um cara que explica como ele se tornou um sucesso e como ele é demais. Depois de esfregar o sucesso na cara da plateia, ele ainda vende livros. Digo, a secretaria do guru fica com todo o serviço sujo. O guru, assim que terminou sua apresentação, sumiu. De certo, ascendeu à abóbada celeste e agora está sentado à direita de Deus Pai Todo-poderoso.


Geralmente, um animadão palestrante pede para você virar para quem está ao lado e afirmar platitudes mentirosas como: Você é um vencedor, você é do tamanho dos seus sonhos ou você pode ser o que você quiser. Isso tudo é besteira. Dizer frases motivadoras pode até levantar a auto-estima, mas encoraja o medíocre a continuar como está. Sinceramente, se alguém que nem sequer conhece o outro, vira para o lado e diz, aleatoriamente, falsamente,  mentiras motivadoras. 


Para estimular a excelência, o controle das situações e a alta baixa auto-estima baixa, sendo sincero, é preciso um tratamento de choque. Eu sugiro virar pro lado e dizer:


— Você e um merda

—?!

— Você é um lixo

— ?

— Tudo o que você fez até hoje foi destrutivo

— ?

— Está na hora de mudar, seu bosta!

— ...


Fim da terapia. Eu me sinto bem melhor, e meu interlocutor recebeu o empurrão que precisava para superar os obstáculos da vida


***


Ainda moleque, num dos meus primeiros empregos, eu trabalhei num depósito de logística. Ou seja, era, pejorativamente, um peão. Pois, certo dia, todos os funcionários se reuniram no auditório para ouvir os conselhos de um palestrante. Como teríamos dicas para o sucesso, certamente descobriríamos como nos livrar daquela empresa.


Diante de uma audiência formada, na sua maioria, por funcionários trajando uniforme cinza e bota preta, o palestrante não precisava se esforçar para parecer superior. Só o gel no cabelo e o paletó já seriam suficientes para humilhar e deixar aquele bando de operários em depressão. O sujeito só podia ser bem sucedido, se bem que aquele parâmetro não desafiava ninguém. 


Como sempre, o guru do sucesso expõe os segredos de sua, pessoal e intransferível, evolução. Após cançõezinhas motivadoras, gritos exclamativos (ú-hu!) e aplausos, voltamos à triste realidade de quem não é um guru motivador nem tem livros para vender.


A conclusão foi que tudo aquilo parecia muito intangível, a não ser que recebêssemos mais ou largássemos o emprego.




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