domingo, 22 de setembro de 2024

🔵 Camisa maldita

 


Gostando muito de futebol, já era hora de comprar uma camisa do meu time. Usada, que era o que eu podia comprar.


Meu amigo tinha exatamente o que eu queria: a camisa número 10 do Corinthians, com o patrocínio da Kalunga. Essa era a camisa do jogador Neto e o patrocinador “master”; (Kalunga) praticamente fazia parte dos símbolos. “Ótima procedência” e precinho camarada, material de primeira qualidade. Na loja de artigos esportivos, custava caro, portanto, não tive dúvidas, comprei a peça. 


Nos anos 90, as brigas de torcidas estavam fora de controle. Meu amigo era um dos integrantes de torcidas organizadas, a Independente do São Paulo. Essas informações já eram suficientes para eu supor que essa camisa do Corinthians era produto de um quebra-pau inesquecível e não de uma compra em uma loja esportiva.


Para diminuir o meu peso na consciência, o resultado da provável pilhagem não estava manchado de sangue, nem rasgado. Como não guardava rastros de violência, o antigo proprietário deveria estar bem. Pelo menos, era isso que a minha mente insistia em acreditar.


Eu fiquei algum tempo com aquilo. A roupa não combinava com a alegria das vitórias do meu time. Ninguém sabia, mas aquela peça tinha sido obtida, supostamente, de forma truculenta, mediante espancamento. Numa corrente do mal, uma gangue de palmeirenses poderia confiscar a peça mediante chutes e porrada. Pior, eu não teria o direito moral de reclamar.


Aquele objeto não é causador de acontecimentos estranhos ou inexplicáveis, mas se tornou uma espécie de amuleto amaldiçoado. Portanto, o peso, não da camisa, mas da consciência me “obrigou” a abandonar a camisa 10 simbolicamente manchada de sangue.


Hoje, a camisa se tornou um cultuado item de colecionador. Mas aquilo, com aquela origem, eu não gostaria de ter nem poderia chamar de manto sagrado.

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