🔵 Telefante

 




Para quem enfrentou um sorteio de consórcio de videocassete, encarar a fila para garantir uma linha telefônica num esperado plano de expansão não deveria ser tão cansativo. Ainda era madrugada, porém a fila estática já se revelava interminável. Os primeiros raios de sol só surgiram para clarear a roubada em que me enfiei. Eu estava com viagem marcada naquele dia. Querendo estar longe dali, meus pensamentos me transportaram para os telefones públicos (“orelhões”) e as fichas. Decidi, ficaria ali até adquirir a maldita linha, pois um telefone significava ascensão social.


O Plano Real tornou a hiperinflação coisa do passado, o Windous 95 enterrou de vez a reserva de mercado, o aparelho de DVD mandou o videocassete para a obsolescência e os automóveis já não eram mais “carroças”. Contudo, o telefone ainda era item de luxo. Para poucos, um, hoje, simples telefone tinha que ser declarado no Imposto de Renda.


Antes das facilidades do celular, o telefone de disco (discar) e o “orelhão” “quebraram um galho” “quando tudo isto era mato”. Entretanto, não eram raros os que, não possuindo o aparelho, transportavam imensos “pentes” de fichas, rumo ao “orelhão da esquina” ou apelassem para um “televizinho”.


A privatização das telecomunicações eliminou aquela absurda fila que eu enfrentei em 1995. O celular veio para democratizar (palavrinha tão na moda) a telefonia, bem como transformá-la em algo exatamente igual ao que víamos no desenho ‘Os Jetsons’. E tem gente que sonha com a volta do “elefante branco” chamado ‘Telesp’...


O “orelhão”, quando não infectado ou depredado, era objeto disputadíssimo. De novo, a fila organizava a espera pela vez. Enganavam-se os que acreditavam na sorte ao encontrar o telefone público com uma pessoa apenas. Se o indivíduo fosse encontrado com fichas enroladas até no pescoço, provavelmente ele estivesse “matando as saudades” de algum parente distante (e surdo). 


Atualmente, com a disseminação da comunicação, os problemas são outros: propagandas impertinentes, ligações erradas e trotes são alguns dissabores da facilidade de se obter uma linha telefônica. Provavelmente, os “orelhões” somente serão encontrados em museus.


Hoje, a comunicação pelas redes sociais são tachadas de “fake news”. Como a sanha autoritária não é recente, a simples conversa no telefone pode significar  ameaça, mas ainda é difícil de ser censurada.




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