🔵 Andando com umas companhias esquisitas





Esse é o tipo de aventura que só se vive na Disney ou, com muita sorte e baixo orçamento, no Beto Carrero World. É provável que, com parcas finanças, você tenha visto no filme ‘O Mágico de Oz’. Porém, mesmo sem nenhuma moeda, vivi esta improvável e inesquecível saga.


Nas férias de verão, um trenzinho cheio de personagens (como a Carreta Furacão) surgia como opção de entretenimento infantil: Snoopy, Fofão, Mickey, Pica-pau, Cuca etc ficavam responsáveis de enganar os pirralhos. Mesmo quem não tinha dinheiro para embarcar no trem, queria participar da atração.  Entre os meninos menos endinheirados estava eu, também porque essa modalidade era mais divertida. Assim seguia o séquito de moleques com bicicleta ou correndo, interagindo com os bonecos.


No meio do périplo animado, o Fofão e o Snoopy ou o Mickey foram deixados para trás. Eu e uns 3 moleques, não lembro se ficamos no caminho ou em solidariedade aos personagens, ficamos caminhando pelas ruas do bairro numa configuração curiosa. Confesso, a imagem daquela odisseia foi uma das coisas mais tristes de se ver: algumas crianças conduzido personagens infantis perdidos.


A inusitada saga se estendeu pelas principais ruas e avenidas do bairro, intrigando os transeuntes e comerciantes da região. Três ou quatro garotos acompanhados do Fofão e outro animal de desenho animado caminhando com a certeza de quem sabe aonde vão, não é algo que se vê todo dia. Afinal, íamos ao ponto inicial do trenzinho. Nós, os “humanos” da expedição assumimos o dever moral de entregar nossos novos amiguinhos sãos e salvos.


Quanto mais longe, mais poética devia ser a inédita cena dos nossos heróis seguindo com um firme propósito. No trajeto, fomos conversando com os personagens. Certamente, aquele passeio já estava valendo muito mais que uma simples volta de trem.


O final da fábula teve uma triste coincidência. Como a busca terminou juntamente ao expediente, testemunhamos Fofão e Snoopy ou Mickey retirando suas respectivas cabeças com sorrisos estampados, revelando trabalhadores extremamente mal-humorados. A decepção foi que toda aquela alegria era uma farsa. Descobrimos, Fofão e Mickey ou Snoopy realizaram a epopeia profundamente entediados e querendo que aquele maçante imprevisto acabasse logo.


Essa jornada serviu para eu desconfiar de mascotes de equipes, vendedores fantasiados, animadores de parques de diversões e personagens de trens que sorriem o tempo todo. Descobri que meus novos amigos de “papel marché” e tecido eram uma fraude.




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