O quadro do médico/diabo 🔵



Esta história parece um conto fantástico do Edgar Allan Poe, um surpreendente episódio de Além da Imaginação ou um capítulo horripilante de Contos da Cripta, entretanto é uma aventura verdadeira. A passagem foi tão inacreditável, que para escrevê-la tive que recorrer ao meu irmão para confirmar se o que meus olhos testemunharam foi o mesmo que os dele. Tudo aconteceu há uns 40 anos, portanto na infância, por isso a desconfiança se aquilo realmente ocorreu ou é uma construção de uma imaginação fértil. 


Entre um amigo, meu irmão e eu, alguém teve a mente devidamente desocupada para sugerir a invasão de uma casa abandonada. A residência antiga tinha um aspecto bem fantasmagórico. Seus antigos ocupantes estavam todos mortos, porém a mobília permanecia em seu interior. Tudo isso agregava com a atmosfera assustadora.


Então, com idade insuficiente e coragem (ou curiosidade) de sobra, enfrentamos a velha casa abandonada que guardava mistérios e lendas. Chegando lá, o ranger da porta, a escuridão e o assoalho de madeira não foram suficientes para nos dissuadir da infeliz ideia e recuarmos.


Os pertences intactos davam a clara ideia de que a antiga moradia não fora saqueada nem serviu de abrigo a moradores de rua ou usuários de drogas. Mas uma coisa intrigava: havia um maquiavélico laboratório, que provavelmente pertencia ao médico falecido. Maquiavélico porque nele constavam recipientes com substâncias destruidoras. Exemplo: ácido sulfúrico.


Observando cada detalhe e exclamando qualquer descoberta que reconstituísse os estranhos hábitos dos moradores excêntricos, alguém viu, apontou e avisou com voz trêmula e apavorada um objeto que faria nos arrepender de ter entrado naquela casa abandonada: um quadro com uma pintura do diabo (com traje de médico) tratando um paciente. Aquela pintura trazia várias dúvidas: quem (e com qual intenção) se sujeitaria a retratar tão horrorosa cena?  A imagem é real ou veio da “inspiração” do artista? Quem se sentiria à vontade tendo um quadro com aquela figura horrível decorando a sala da residência?


Aquilo foi o bastante para encerrarmos aquela lamentável expedição e decretarmos que aquela edificação era realmente mal-assombrada. 


Acontecimentos estranhos e desastrosos se sucederam, o que pareceu uma maldição. Dois acidentes (com um tubo de ácido sulfúrico e o desabamento de um muro da casa sobre um amigo meu) avisaram que havíamos ido longe demais.


Tempos depois, tudo foi derrubado e alguém recolheu o quadro. Algumas lojas populares foram construídas no terreno de esquina (encruzilhada), de modo que alguma loja ocupa o exato local do “quadro do médico/diabo”.


Na época, houve um confronto mental do que era o Bem e o que era o Mal; hoje, conhecendo o ser humano, já ficou claro que coisas estranhas aconteciam na casa, e a pintura era só a decoração de atividades mais severas.


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