🔵 Copa 1990

 



Décadas depois, abri o álbum de figurinhas da Copa do Mundo de 1990. Senti o cheiro das páginas besuntadas de cola Tenaz. O olfato me tragou para a memória afetiva (ou seria memória olfativa?). Quando folheei mais o livro ilustrado, tive a impensável surpresa de encontrar um envelope de figurinhas. O cheiro me puxou de vez e, quando fechei os olhos, tinha apenas 15 anos novamente.


***


A caminho do clube, seguindo a trilha de pacotinhos abertos e espalhados pela calçada, descobri de qual banca vinham os rejeitos. Comprei os meus pacotinhos e fiz o mesmo; sem nem sequer entender o conceito de limpeza pública, espalhei-os pelo meio-fio. Parece que como castigo o “bolo” de repetidas só aumentava. Às vezes, de bicicleta eu ía à banca “que dava sorte”: por coincidência ou nexo causal, quase sempre funcionava.


Já no Esporte Clube Vila Galvão, era hora de trocar cromos repetidos, mas não sem antes fazer uns gols e defesas gritando “É do Maradonaaaa” ou “Espalma Michel Preud-Hommeeee”, craque da Argentina e goleiro da Bélgica, respectivamente. 


Aos 15 anos, tudo ainda podia acontecer, inclusive completar o álbum. Essa coleção é uma excelente metáfora ou comparação com a própria vida: alguns têm a perseverança de completá-los, enquanto outros desistem; antigamente a coleção era pregada com cola escolar, hoje é com a facilidade dos cromos autocolantes.


*


Arremessando bolas na cesta de basquete, enquanto as caixas de som reverberavam por todo o “Vila” os sucessos do momento, adivinhava que a incipiente década de 90 seria muito boa, a julgar pela infância favorável. Entretanto, naquele momento, minha única preocupação era completar o livro ilustrado, enquanto me “embriagava” de refrigerante e aplacava o meu vício em misto-quente. E foi este meu bem sucedido objetivo. Naquele ano, eu me dediquei nesta coleção mais do que nos álbuns da falecida Copa União, do Campeonato Brasileiro de 1988 e, até mesmo, que na escola. 


Após essa “viagem”, fechei o álbum, voltando à atual década, que transformou a infância em algo remoto. Infância que pode ser relembrada intensamente, abrindo um velho álbum de figurinhas que guarda o cheiro de 1990.

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