“Vou festejar o teu sofrer”

 



Dançando ao som de Beth Carvalho. Que mal pode haver nisto? Quando o presidente do TSE, Alexandre de Moraes, está na festa, algo está muito estranho. A letra da música ‘Vou Festejar’ cabe perfeitamente para escarnecer de quem se deu mal no pleito. O curioso é que o responsável pela votação foi parcial. A eleição foi empurrada de qualquer jeito, não foi transparente e colocou  na Presidência um sujeito que não atua como um servidor público, mas um realizador de interesses particulares.


Dentre as imagens que eu vi, chamou a atenção um sujeito dançando solto como um “tiozão” no final de um baile de debutante. Como se não houvesse amanhã, o camarada, que devia ser um cidadão compenetrado, sério mesmo, balançava o esqueleto ao som da “melô da vingança” ‘Vou Festejar”. Com a gravata frouxa, paletó amarrotado e os dedinhos indicadores em riste (como um legítimo japonês sambando), ele gritava: “(...) vou festejar o teu sofrer, o teu penar”. Chora. Deve ser a tal “festa da democracia”. Pode não ser nada do que parece, mas tudo isto tem a estética do escárnio.


Se há políticos e autoridades comemorando absolutamente nada numa festinha brega e nababesca, o interesse público está vazando pelo ladrão. O pouco caso pode ser traduzido numa dancinha. Quem não se lembra da deputada Ângela Guadagnin e a “Dança da Pizza”. A performance, que poderia ser facilmente confundida com uma celebração mística, era a ofensiva e obscena comemoração da absolvição de um colega acusado no “Mensalão”.


“Eleição não se ganha, toma-se”; “Já vai tarde” e “Perdeu, mané” contribuem para o argumento do escárnio. Luís Roberto Barroso justifica a infelicidade do que diz como sendo piadas. O repertório de baboseiras é o suficiente para um “open mic” (microfone aberto) de “stand-up comedy”.


Políticos arriscando dancinhas, trilhas sonoras e frases que evidenciam (ao menos simbolizam) que eles não estão nem aí para o povo, são o prenúncio de uma disrupção. O ‘Baile da Ilha Fiscal’ ficou conhecido por isso. O evento que ofereceu diversão para os nobres antecipou a queda do Império e início da República. 


Já temos a dancinha, a trilha sonora e as frases infelizes. Falta pouco.



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