terça-feira, 11 de junho de 2024

🔵 Blackdog

 



Ir até a travessa da Avenida Paulista era um dos preços que teríamos que pagar para comer o “hotdog” do qual tanto falavam. Devido ao endereço nobre, o velho cachorro-quente era conhecido com o nome importado, mas logo seria conhecido pelo apelido: dogão. Depois de algum tempo, a parada obrigatória começou a esticar a noitada e anunciar uma nova saideira. 


Entretanto, a parada improvisada foi transformada em um novo destino. O logotipo estampava um cão preto, com óculos escuros, aspergindo “catchup” no sanduíche. O salão seguia o padrão americano da lanchonete do palhaço. Tudo destoava da antiga barraquinha de cachorro-quente do “Paraná”.


A lanchonete da rua transversal à avenida famosa em nada lembrava aquela barraquinha onde matávamos a fome da madrugada; mais parecia uma filial do McDonald’s. Provavelmente, o preço do “dogão”, digo, “hotdog” seria “gourmetizado”. E não deu outra; os funcionários, as contas, o marketing e o aluguel no bairro nobre inflacionaram o lanche. Além disso, a paisagem urbana dos edifícios e as antenas da “Paulista” foram substituídas pelas lâmpadas fluorescentes da nova lanchonete.


Isso parece matéria paga. Mas é apenas a descrição do nascimento de uma grande rede de lanchonetes. Ou: a ex-barraquinha de comida de rua do Paraná. Parece saudosismo barato (e talvez seja), mas quando o ‘Black Dog’ era só uma barraquinha o “hotdog” parecia melhor.


Entrar na rua Joaquim Eugênio de Lima para forrar o estômago e neutralizar os efeitos do álcool, vindo da Vila Madalena, Pinheiros, Itaim ou Vila Olímpia, não seria mais a mesma coisa.


Ficaram faltando os únicos ingredientes que nenhum pão com salsicha vai conter: os arranha-céus e as antenas da “Paulista”.







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