⚫️ Churrasco Grego

 




Caminhando pelo Centro de São Paulo, tinha o trabalho de desviar do lixo. Dizem que Nova York também é assim. Mas lá não tem o Churrasco Grego. Assim como o beijo, o iogurte e o presente, são coisas que, apesar do nome, não são típicas ou facilmente encontradas na Grécia.


Aquela traquitana, apesar de inexplorada, era familiar. O comerciante com o desbotado avental azul — avental ostentando um logotipo referente a algum bar inexistente. O tal churrasquinho era uma pilha de gordura, algo indecifrável e algum tipo de carne girando. 


Não sei se pela fome ou pela determinação do desafio autoimposto, mas o conjunto comestível me hipnotizou. Li o aviso da promoção que parecia pouco atraente, embora eterna: lanche + suco. A carne tinha um aspecto atraente, mas os sucos amarelo e vermelho, eram demasiado artificiais.


Disputei espaço com desocupados, transeuntes, motoboys e demais trabalhadores com “ticket” de vale-refeição insuficiente para um prato-feito. De fato, o baixo preço era compatível com os piores cortes que giravam incessantemente no carrinho/churrasqueira.


O sujeito abriu um pão francês e esfarelou a carne que girava no carrinho e hipnotizava a ralé esfomeada. Pronto, estava construída a mítica iguaria. Pensei: com esse nome europeu, só pode ser coisa fina. Para completar esse exemplar da baixa gastronomia “Jesus me chama”, o suco: pedi, e, disputando a torneirinha com abelhas urbanas, o atendente colocou em metade do copinho de plástico, o suco artificial amarelo.


Quem consegue digerir e absorver nutrientes desse sanduíche mitológico da culinária paulistana, ingere qualquer item da região mais remota do Planeta. Larvas, insetos e raízes são fontes de proteínas palatáveis para quem consegue engolir o Churrasco Grego do Centro da Cidade.


Obs: Esta é uma obra de ficção. Eu já passei da época de me atirar a experiências insalubres. No entanto, na falta de consumir tal comida de rua paulistana, resolvi reproduzir como seria o episódio. Talvez eu tenha exagerado. Ou não. 

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