Tornozeleira eletrônica, a estranha tendência brasileira

 



Um triste aniversário. Há dois meses, você descobriu que sua cunhada, sua irmã, sua tia, sua sogra ou sua avó é uma terrorista. Você achava que o pior que o seu cunhado poderia fazer era entrar na sua casa, abrir a geladeira e “roubar” a última cerveja gelada? E aquela velhinha com passos curtos que você ajudou a atravessar a rua? É uma golpista. Contrariando Cesare Lombroso, quem vê cara, não vê terrorista.


“A favela é a nova senzala”, cantou Lobão. Pois, a tornozeleira eletrônica é o grilhão atual, é a contribuição tecnológica a serviço da restrição de liberdade. Infelizmente, temos quem insista em usá-la como, aplicando um eufemismo enganoso: “benefício”.


Um punhado de inocentes foi solto a esmo. Se são inocentes, por que estavam presos? Agora, mesmo sem a condenação, estão condenados a usar a maldita tornozeleira eletrônica.


A tornozeleira eletrônica, essa maravilha tecnológica dos psicopatas moderados, cumpre a mesma função da bola de ferro: impede o deslocamento, restringe a liberdade. Para que reparação histórica, se as arbitrariedades são atuais? 


Com uma “caneta empoderada” e uma hermenêutica muito subjetiva, a inconstitucionalidade fica constitucional e a democracia é antidemocrática. Mais, aquela vovó que ficava fazendo tricô no canto da sala resolveu exercer a cidadania e agora é uma perigosa terrorista. Sei que estou sendo repetitivo, mas vale a pena. Essa triste realidade, lembra aquela cena hilária de uma comédia escrachada: vários terroristas, ostensivamente mal intencionados, passam tranquilamente pela revista, enquanto uma velhinha, claramente indefesa, é detida. Pois bem, a realidade está imitando a comédia exagerada. É claro que alguma coisa errada não está certa.


Os presos injustamente (na cela ou com tornozeleiras), além de tudo, são alvo de zombarias, por exemplo: marchinha carnavalesca. É o cúmulo do escárnio e falta de empatia. Aliás, eis um exemplo de como “hashtags” (#), acompanhadas de belas palavras, são apenas sinalização de virtude. 

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