🔵 Criaturas da noite

 








A notícia correu alcançando ouvidos atentos. A novidade que um amigo agora era sócio de uma casa noturna no coração da Vila Olímpia (São Paulo) correu feito rastilho de pólvora. Para nós, que não curtíamos música “dance”, apenas iríamos prestigiar a balada, mas, rapidamente, surgiriam os “amigos” de ocasião.


E a ocasião não frustrou a previsão. Como era esperado, o telefone não parou de tocar. Os “amigos” de ocasião, sempre atentos, nunca perderiam essa boquinha. Estes, embora com algum atraso, mas vigilantes e atentos, trataram de manter acesa a chama de uma grande amizade. Para atender a sanha por uma pulseirinha VIP, um camarote e talvez um copo de whisky, meu ciclotímico amigo precisaria contratar um “call center”.


Noites muito boas, reencontrando velhos amigos e encontrando, é claro, os “parças” (parceiros) no camarote, vestindo a pulseira VIP, exagerando no sotaque paulistano (como em novelas) e grudados em copos de whisky com energético. Mesmo não curtindo músicas de “DJ”, ir a uma balada de “playboy” foi quase uma experiência antropológica. 

                         

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Numa noite qualquer, fomos fiscalizar as ruínas da casa noturna da badalada Vila Olímpia. Foi triste voltar, com o sócio do que sobrou, na avenida Hélio Pellegrino, onde pessoas dançavam, bebiam, conversavam e sorriam. O cenário era de um ambiente bombardeado: imóvel escuro, tudo revirado, alguns vestígios de infiltração e arrombamento eram a evidente suspeita da 

frequência de moradores de rua e/ou usuários de drogas. O que tinha algum valor foi levado. Uma garrafa com um pouco de bebida foi a solitária prova de que alguém se divertiu nas noites de sábado dali.


Esse é o lado que nunca tinha testemunhado das casas onde todos se divertem. Muitos dos que frequentam esses lugares talvez estejam nessa situação: nas noites de sábado, conseguem disfarçar o aspecto, entretanto por dentro são somente ruínas.


Observação: os “amigos” de ocasião sumiram. Devem ter “colado”, morrendo de saudades, em outro amigo de infância “dono de balada”. Ah, esses “parças”, sempre querendo manter acesa a chama da amizade.

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