🔵 Morrison Rock Bar

 




O “grande astro” da noite subiu ao palco. O barzinho de rock era bem acanhado, escondido na parte baixa da Vila Madalena, na verdade, Pinheiros. O local não lembrava nem de longe as grandes casas de espetáculos, muito menos os estádios. Havia pouquíssimo tempo para executar o rock mais tocado nas rádios em 97. Quem sabe, depois disso os mais distraídos se lembrariam de quem se tratava.


Embora digno, Henrique Lima não planejava isso para sua carreira: cantar e tocar para um punhado de bêbados num boteco de São Paulo. Pior que isso: alguém, embriagado e saudoso, berrando ininterruptamente para tocar “Bagulho no Bumba”, seu solitário sucesso.


Você que, sem ligar o nome à pessoa, pergunta: quem diabos é Henrique Lima? Eu respondo: o vocalista da banda “Os Virgulóides”. A banda, “descontraída”, surgiu no vácuo deixado com o desaparecimento dos “Mamonas Assassinas”.


O, então, despercebido músico paulistano sabia (estava acostumado) que após os primeiros acordes de ‘Bagulho no Bumba’ as coisas mudariam: Ele deixaria de ser o famoso “quem(?)” e a plateia olharia com mais atenção, talvez inveja.


Não deu outra, como esperado o velho sucesso, de tanto que tocou nas rádios e nas areias das praias, quando reproduzido ao vivo gerou comoção, um coralzinho honesto e despertou a memória afetiva na mais insensível das criaturas.


Por uns minutos até que foi legal lembrar da musiquinha que embalou alguns dos irresponsáveis finais de semana no litoral; mas, terminada a exumação da canção, tudo voltou a resumir apenas mais uma noite de sábado,


Entre conversas, risadas, vai e vens dos copos e alguns aplausos, Henrique Lima tocava como nos tempos de Rock In Rio ou com a mesma aplicação de quando vendia mais de 200 mil cópias.


É isso. Um dia você dedilha as cordas da guitarra e canta para milhares de pessoas; no outro, a mesma coisa distrai uma galera ensandecida, numa espelunca da Vila Madalena.


Henrique Lima parecia se vingar quando cantou: “É, é, é, é... Eu acho que o bagulho é de quem tá de pé”.

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