🔵 Restaurante impagável

 




Chega de peixe! Cansados de frutos do mar e seu respectivo cheiro, bem como, dizem, o sabor da água, fomos a uma pizzaria de São Vicente, litoral paulista.


O que era para ser um tranquilo momento para matar a fome, se transformou num episódio inesquecível de suspense, paranoia e, às vezes, terror.


Um garoto até esquece da vida quando saboreia uma pizza sem se preocupar com a conta. Mas quando decidem sair sem pagar e... correndo. O que seria uma noite no calçadão do litoral, ganhou um enredo de filme policial dos anos 70, com trilha sonora. 


Meu cunhado e minha irmã começaram a planejar a fuga. Mesmo assustado com a situação e mastigando (com dificuldade) os últimos pedaços (amargos) da borda com catupiri, eu calculei qual seria o meu papel no pinote caloteiro. Enquanto o plano era urdido, eu, olhando para a cara deles, sem querer acreditar muito naquilo, pensava, balançando a cabeça em desaprovação: eu sempre desconfiei desse cara, mas minha irmã... Eu não posso me envolver nessa sujeira e tenho que tirar a minha irmã do mundo do crime.


Quando retornei do solilóquio moral a estratégia havia avançado e, pior, eles haviam decidido qual seria minha participação na prática delitiva.


A pizza já havia sido devorada. Aquele cenário de assadeira somente com farelo, talheres abandonados e pratos com tomates e caroços de azeitonas desprezados, ilustravam meu ânimo e indicavam, num tic-tac imaginário, que a hora estava chegando. 


Nessas alturas, eu já me sentia partícipe de um roubo a banco. Não teria alternativa, nosso destino seria algo como o presídio de Ilha Grande ou Alcatraz. Nunca me importei com isso,  sabia que o estado de nossas prisões era deplorável. Na tal “escola do crime” eu, que iria fugir   duma pizzaria sem pagar, seria preso com assaltantes de bancos, assassinos e traficantes.


No auge da “brincadeira” eles revelaram a farsa. Meu “background” cinematográfico facilitou um planejamento que jamais revelei. No fim, tentando rir daquilo tudo, eu disse que sempre soube que se tratava de “zoeira”. Acho que nunca convenci, mas com a dificuldade para juntar os trocados e quitar a redonda, acredito que a ideia de sair correndo sem pagar foi realmente debatida entre o casal.



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