Orestes Quércia não era o candidato favorito. Porém, aquele sujeito, que cumprimentava a velha guarda de Avaré como um político do interior, estava fazendo a campanha que o levaria ao Palácio dos Bandeirantes.
Confirmando o meu interesse incomum, aquele passeio dificilmente faria outro moleque de 11 anos abandonar seus brinquedos. Mas meu pai, sabendo do gosto heterodoxo (para não dizer de mau-gosto), me chamou para ver Quércia mentindo.
Em 1986, eu já tinha mais medo do dragão da inflação do que de monstro embaixo da cama, então, eu já sabia o que significava a indestrutível hiperinflação da “década perdida”, que consumia minhas desvalorizadas moedinhas.
No caminho interiorano, um cenário composto por praça, coreto e igreja; na plateia, lógico, havia um bêbado que apoiava o candidato em tudo, e um cão cor de caramelo à procura de algum pedaço de carne.
O palanque modesto sustentava o político Almino Afonso e a atriz Ruth Escobar, a única pessoa famosa ali. Havia também outros políticos, dentre eles, um antigo candidato a prefeito de São Paulo, que perdeu para Jânio Quadros.
Orestes Quércia prometia melhorias, moralização na política e priorizava uma porção de coisas. Aquele blá-blá-blá que só enganaria uma criança. Ledo engano, depois, tive certeza. Ele conseguiu engrupir um número suficiente de pessoas no estado, que o elegeram governador. Portanto, naquela noite, dedo em riste e voz firme, peremptoriamente, ele deve ter convencido parte da plateia.
Naquele palanque, o “papagaio-de-pirata” e correligionário de Orestes Quércia, era o futuro ministro da Economia, que acabou com a hiperinflação, e presidente Fernando Henrique Cardoso.