Aquela manhã ensolarada convidava para comparecer na inauguração da loja ‘Tamakavy’. Nem precisava de muito para eu prestigiar a implantação daquela unidade da rede de lojas com nome esquisito.
O principal motivo para eu estar ali, eram os carrinhos de pipoca e algodão-doce inteiramente grátis. Eu realmente não tinha entusiasmo para celebrar a abertura de mais uma loja na minha rua. Mas a ‘Tamakayy Móveis’ era do Silvio Santos, e existia o boato de ele vir animar aquele povo de Guarulhos que se contentava com algodão-doce e saquinho de pipocas.
Bem de manhã eu fui pensando que seria o primeiro da fila, porém, todos devem ter pensado o mesmo. Entretanto, logo vi, ninguém foi para lá com a intenção de comprar um jogo de mesa e cadeiras ou um conjunto estofado da promoção sem juros no crediário. Todos estavam na porta da loja esperando para comer de graça.
A bandinha — de músicos de coreto aposentados, que trajava um uniforme militar, porém, vermelho e amarrotado — tocava uma porção de musiquinhas popularescas e, às vezes, o tema instrumental que anunciava “Silvio Santos vem aí...”. Isso nos enchia de esperança.
O tempo foi passando, e nada do “Homem-sorriso” dar as caras, já não adiantava fingir que estávamos interessados nos móveis da ‘Tamakavy’. No entanto, a bandinha mantinha a esperança da iminente chegada do “Homem do Baú” com o tema “Silvio Santos vem aí...”.
Ele não veio, e eu não pude me vingar nem quando estive no programinha do Bozo, o palhaço, nos estúdios do SBT. Contudo, esperto que ele era, deve ter provocado uma enorme fila de “colegas de trabalho” colocando em dia o pagamento do “Carnê do Baú”. Como ele não sabia com quem tava mexendo, eu dei prejuízo ao “Patrão” e deixei aquele morador do Morumbi mais pobre, devorando meus algodões-doces e saquinhos de pipocas de graça, sem comprar um único móvel do novo comércio.
Foi nesse dia que o povoado da Vila Galvão não conheceu Silvio Santos.